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Paixão por Lisboa

Espaço dedicado a memórias desta cidade

Paixão por Lisboa

Espaço dedicado a memórias desta cidade

Arco das Amoreiras e Arco de São Bento

"No fim de vinte annos de trabalhos nunca interrompidos (1729 a 1748), correu em Lisboa o
abundante manancial da fonte chamada da Agua-Livre, proximo da villa de Bellas.
Foi um acontecimento que encheu a cidade de alvoroço, e que ella registou como um dos mais
importantes successos da sua historia.
Depois de tantos esforços mallogrados, e de tantas necessidades mal satisfeitas, aquelle facto
foi para Lisboa um verdadeiro triumpho. O architecto comprehendeu a alta significação d'esse
facto, erigindo dois arcos triumphaes para darem passagem ás tão appetecidas aguas na sua
entrada na capital.
O <<Arco Grande das Amoreiras>>, que atravessa a rua das Aguas-Livres, é o mais bello e
grandioso dos dois; e devia sel-o, porque, levantado ás portas da cidade, foi elle o primeiro
que recebeu o manancial, e lhe franqueou o passo para o interior da povoação. Assim tambem elle
ostenta as inscripções commemorativas d'aquelle fausto successo, e da fundação do magnifico
aqueducto das Aguas-Livres.
O arco chamado de <<S. Bento>>, por se erguer sobre a rua d'este nome, e junto do antigo
mosteiro benedictino, hoje palacio das Cortes, é menos elevado e mais singelo que o primeiro,
mas é, como este, construido de excellente cantaria, e de ordem dorica. São perfeitamente
similhantes as suas duas frentes, do norte e sul. Da parte de léste fica contiguo ás casas que
orlam aquella rua. Da parte de oeste encosta-se á muralha, coroada de grades de ferro, a qual
sustenta a almeda que se estende por toda a frontaria principal do palacio das Cortes...A
construcção d'este arco é muito posterior ao aqueducto geral, porque os frades do mosteiro de
S. Bento a contrariaram o mais possivel, por lhe fazer o aqueducto pejamento na cêrca."
in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 6.º Ano, n.º 3, 1863

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Arco das Amoreiras, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

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Atlas da carta topográfica de Lisboa nº 26, de Filipe Folque, in A.M.L.

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Arco das Amoreiras, foto de José Chaves Cruz, in a.f. C.M.L.

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Arco das Amoreiras, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.

Arco das Amoreiras e aqueduto das Águas Livres, j

Arco das Amoreiras, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.

Arco da rua de São Bento e palácio de São Bento

Arco da rua de São Bento, foto de Machado & Sousa, in a.f. C.M.L.

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Atlas da carta topográfica de Lisboa nº 41, de Filipe Folque, in A.M.L.

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 Arco de S. Bento, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

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Arco de São Bento, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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Arco de São Bento, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

 

PALÁCIO DO CUNHAL DAS BOLAS

ANTIGUIDADE DO PALACIO DO CUNHAL DAS BOLAS
" Pelos annos de 1737 pertencia este palácio a D. Antonio de Mello de Castro e Mendonça, filho de D. Violante Casimira de Mendonça, casado com D. Maria Francisca Bonifacia de Vilhena, fidalgo da casa real, e commendador da ordem de S. Thiago. Pouco antes, Paulo de Carvalho e Athaide, principal da santa egreja patriarchal, para se pagar de certas quantias que D. Antonio lhe devia, por execução judicial que lhe moveu, arrematou em praça a maior parte das <<casas ao cunhal das bolas>>, como livres, e tomou posse d'ellas. Recorreu o executado ao favor do soberano, e conseguiu d'elle a especial graça de um decreto para poder remir, apesar de terem decorrido alguns annos, a parte d'aquellle palacio que lhe fora rematada, com a condição de pagar ao rematante o preço da arrematação e toda a sua divida. Não achando porém dinheiro para desfructar a graça da remissão, recorreu de novo a el-rei, e precedendo o consentimento do immediato successor, e as mais formalidades necessarias, alcançou uma provisão regia para obrigar e hypothecar, sem limitação de tempo, não sómente a parte do palacio que pretendia remir, mas tambem o restante d'elle com todas as suas pertenças, e todos os mais bens livres e do morgado, com seus rendimentos, à quantia de quinze mil cruzados a juro de 6 1/4 por cento ao anno, com a condição de que esta quantia fosse destinada unicamente á dita remissão, e depositada por quem a désse no juizo das capellas, para por elle ser pago o arrematante.
Com a segurança d'esta real provisão perpétua, e de se transferir o direito do rematante para quem dêsse o dinheiro, conseguiu D. Antonio, por escriptura publica de 16 de fevereiro de 1737, haver de Antonio de Castro Alvellos, conego da sé oriental de Lisboa, nove mil cruzados. Mas não se tendo podido ultimar o contrato por causa de varios incidentes sobrevindos, trespassou o dito conego a sua acção e direitos para seu sobrinho o beneficiado Francisco de Castro Alvellos, com quem D. Antonio celebrou novo contrato em 21 de maio de 1738, pelo qual aos nove mil cruzados se juntaram mais tres, e se reduziu a 440:000 réis a renda annual do dito palácio, que na antiga escriptura se estipulára em 480:000, para pagamento do juro do capital mutuado, com arrendamento do mesmo palacio ao mutuante. A este tempo era já fallecido o principal Paulo de Carvalho e Athaide, e em força da real provisão, e d'este contrato, se fez com os herdeiros d'elle a remissão da parte do palacio que fôra executada."
in Archivo pittoresco : semanario illustrado,6.º Ano, n.º 20, 1863

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 Cunhal das Bolas, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.

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Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº 42, in A.M.L.

Levantamento topográfico de Francisco Goullard n

Levantamento topográfico de Francisco Goullard nº 290, in A.M.L.

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 Cunhal das Bolas, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

 

Cunhal das Bolas, anos 40, foto de Eduardo Portuga

Cunhal das Bolas, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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Frades de pedra no Cunhal das Bolas, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.

Hospital Dona Estefânia

"É obra dos sentimentos caridosos de D. Estephania o magnifico hospital, quasi concluido, que hoje se admira na parte mais elevada da bella quinta da Bemposta.
Em a cogitação permanente do seu bondoso espirito, tinha aquella rainha sentido a necessidade de se criar um hospicio exclusivamente dedicado ao tratamento das criancinhas pobres que a doença atacasse no berço da miséria. Merecia-lhe a humanidade este particular affecto, nesse ponto do vario caminho da vida, onde a angelica esposa de D. Pedro V parava sempre, para selar com um osculo da sua ternura as faces puras da innocencia.
Não chegou D. Estephania a ver cumprido o seu voto; mas a sua alma vôou tranquilla para a mansão dos justos, porque bem sabia que no coração do rei continuava a viver com a mesma iniciativa e energia de piedade...Não socegou D. Pedro V em quanto não vio collocada a primeira pedra, levantadas as abobodas, erguidas as paredes do edificio que havia de recolher debaixo dos seus tectos os filhinhos enfermos do proletario...Tinha pressa, ávida pressa, pressa insaciavel de as concluir, porque sentia fraquejar-lhe o pulso em que suspendia a mão gelada de uma teimosa e sinistra fatalidade que principiava a poisar-lhe no peito arquejante...D. Pedro adivinhava. A meio caminho do desempenho da sua palavra e gratidão, vergou, tambem, para não mais se erguer...As obras pararam então....O hospital de D. Estephania, actualmente muito adiantado, é pela sua grandeza, originalidade, e perfeita harmonia entre as condições da sciencia e da arte, um dos mais notaveis da Europa...Tem a forma de um parallellogramo, medindo 135 pés de comprimento e 75 de largura. ë ao centro do parallellogramo, que são os lateraes do edificio, quese estendem as suas principaes enfermarias, iguaes e symetricas. Medem 130 pés de comprimento, e acommodam todas mais de 128 camas."
in O panorama : jornal litterário e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, Vol. XVII, 2º da 5ª Série, N.º 1 de 1867

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Hospital Dona Estefânia, s/d, foto de Leilão Soares e Mendonça, in a.f. C.M.L. 

"Numa visita ao Hospital São José, impressionada com a promiscuidade com que na mesma enfermaria eram tratadas crianças e adultos, a rainha ofereceu o seu dote de casamento para que aí fosse criada uma enfermaria para aquelas, e manifestou o desejo de construir um hospital para crianças pobres e enfermas.
Inicialmente chamou-se Hospital da Bemposta mas em homenagem à rainha, que entretanto falecera, passou a designar-se de Hospital D. Estefânia.
A sua construção foi primorosamente planeada. Relacionado com as mais ilustres casas reais da Europa, D. Pedro V solicitou pareceres sobre projectos e plantas hospitalares, elaboradas por técnicos competentes e autorizados sobre o assunto e remetidas dos mais variados locais, nomeadamente Londres, Berlim e Paris.
Em 1969 passou a ter valência Materno Infantil com a construção de um edifício provisório para onde foi transferida de S. José, a Maternidade Magalhães Coutinho inaugurada em 1931.
Esta maternidade, a funcionar em edifício provisório, viria a ser desactivada em 1996 e reinstalada num edifício do princípio do Sec XX, o pavilhão D. Pedro V, após obras de remodelação em 1998-2001.
O Hospital Dona Estefânia tem vindo ao longo dos anos a ganhar diferenciação em todas as especialidades na sua componente pediátrica fruto de muitos pediatras que nele trabalharam permitindo assumir-se como um dos principiais do hospitais pediátricos nacionais."

in http://www.chlc.min-saude.pt/content.aspx?menuid=393

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Planta Topográfica de Lisboa 11 J, 1910, in A.M.L.

Hospital Dona Estefânia, sd, foto de Augusto Bobo

Hospital Dona Estefânia, s/d, foto de Augusto Bobone, in a.f. C.M.L.

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Hospital de Dona Estefânia, claustro, anos 40 séc. XX, foto de Manuel Tavares, in a.f. C.M.L.

Hospital de Dona Estefânia, foto de Ferreira da C

Hospital de Dona Estefânia, s/d, foto de Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.

 

 

O Coléginho

O COLÈGINHO
DE MESQUITA MOURA A PAROQUIAL DO SOCORRO
"Expulsos os mouros do reino, ordenara D. Manuel que as mesquitas, que fossem capazes de serem igrejas, se purificassem.
Na Mouraria, o bairro onde os infiéis se haviam abrigado por decisão de D. Afonso Henriques, erguia-se no alto do labirinto de caminhos escusos, - hoje ainda representados pelos típicos e característicos becos dos três Engenhos e da Guia, pelas ruas do Capelão e do joão do Outeiro, e pelas Escadinhas da Saúde e do Marquês de Ponte de Lima,- um desses templos muçulmanos.
Alguns anos depois Lisboa contava com uma igreja mais - consagrada à Anunciação da Virgem Mãe - e dela aproveitavam "umas boas mulheres que viviam juntas e se chamavam Beatas da Terceira Ordem de S. Francisco".
Por Breve de Leão X de 1519 que substituíra um outro já passado quatro anos antes o templo e a casa anexa foram entregues às religiosas de S. Domingos. Seis freiras do convento de freiras de Aveiro - e entre elas, D. Joana da Silva, filha do Conde de Penela, que foi a primeira prioreza, e D. Brites de Noronha, filha do conde de Abrantes - entraram nesta casa conventual da Mouraria, já então conhecida pela Anunciada, no dia 12 de Novembro desse ano.
Com o decorrer do tempo verificaram as dominicanas a impossibilidade de ampliar as instalações da sua pequena e <<limitada>> casa, pois o sítio era posto em ladeira. Além desta circunstância, o edifício era exposto ao norte e, por conseguinte, excessivamente frio no inverno e pouco saudável.
Estabeleceram, então, as dominicanas um acordo com os frades agostinhos, isto é, a troca dos respectivos edifícios. Estes passaram, após a escritura realizada - 22 de Fevereiro de 1538, confirmada em 7 de Junho seguinte - para este convento da Anunciada, na Mouraria, e as freiras instalaram-se no convento de Santo Antão, que passou a designar-se pelo nome que ainda hoje o local rememora - Anunciada.
Instalada, anos mais tarde, a Companhia de Jesus em Portugal, e devoluto o edifício da Mouraria pela saída dos agostinhos, os padres daquela ordem tomaram posse do convento no dia 5 de Janeiro de 1542. Dez anos passados, Santo Inácio de Loiola dá à casa o título de Colégio. Daqui advém, com o diminuitivo da palavra, o nome por que o edifício ficou a ser conhecido...Reconstruída, segundo o risco do arquitecto Custódio Vieira, após o sismo de 1755 (obras que nunca foram concluídas) a igreja do Coleginho conserva ainda o mesmo número de capelas - a capela-mor e quatro laterais - existentes antes do terremoto.
Tem admiráveis exemplares de azulejos dos séculos XVII e XVIII e, no corpo do comvento, um lindissímo claustro com arcos de volta redonda.
Durante muitos anos o templo - que fora em 16 de Abril de 1813 sagrado pelo bispo de Meliapor - esteve encerrado ao culto. Em 1938 abriu de novo as suas portas, mas ùnicamente aos domingos. No ano que decorre, no dia 16 de Abril, após a realização das indispensáveis obras de beneficiação dirigidas pelo constructor Diamantino Tojal, foi nela instituída, por demolição da Paroquial do Socorro, a sede eclesiástica da freguesia.
in Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa",A. XIII, n.º 52, Outubro 1950

Igreja do Coléginho, foto de Eduardo Portugal, in

Igreja do Coléginho, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Atlas da carta topográfica de Lisboa n 36, 18.. F

Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº 36, 1858, de Filipe Folque, in A.M.L.

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Igreja do Coleginho, Fichas integradas no ficheiro do Inventário da Azulejaria, in http://digitile.gulbenkian.pt/cdm/ref/collection/jmss/id/6611

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Claustro do convento do Coleginho, foto dos estúdios Mário Novais, in a.f. C.M.L.

Igreja do Coleginho na rua Marquês de Ponte de Li

 Igreja do Coleginho na rua Marquês de Ponte de Lima, painel de azulejos, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.

Igreja do Coleginho na rua Marquês de Ponte de Li

 Igreja do Coleginho na rua Marquês de Ponte de Lima, painel de azulejos, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.

Igreja do Coleginho na rua Marquês de Ponte de Li

  Igreja do Coleginho na rua Marquês de Ponte de Lima, painel de azulejos, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.

Igreja do Coleginho, fachada principal, foto de Sa

 Igreja do Coleginho, foto de Salvador de Almeida Fernandes, in a.f. C.M.L.

 

A ascenção do balão "Nacional"

"A ascenção do balão Nacional"
Em 20 de maio de 1906
" O <<Nacional>> é hoje propriedade do aeronauta sr. Alfredo Gomes de Figueiredo, discipulo do celebre <<Ferramenta>> e que, seduzido pelas glorias do "sport" e animado pelo seu espirito aventureiro e intrepido, resolveu dedicar-se á mesma profissão que deu áquelle seu mestre notoriedade e proventos.
O sr. Alfredo de Figueiredo, que no Brazil effectuara já algumas ascenções, apresentou-se agora pela primeira vez ao publico de Lisboa.
Ultimados os preparativos, cerca das 5 horas e meia, e no intervallo da 1ª para a 2ª parte do espectaculo cyclista, o <<Nacional>> que se balouçava graciosamente ao sabor do vento, foi arrastado para um dos extremos da "pelouse" a fim de lhe ser facilitada a ascenção. entretanto o sr. Figueiredo, acompanhado por alguns dos seus amigos, percorria, em toda a volta. a pista do Velodromo, cumprimentando o publico, que na sua passagem, o festejava com palmas, O novo aeronauta mostrou grande arrojo e uma rara confiança nos seus conhecimentos thecnicos. As photografias mostram nitidamente as diversas phases da ascenção, desde o enchimento do aerostato."
in Ilustração Portuguesa, 2ª série, n.º 14, 28 de Maio de 1906

O Balão Nacional, uma ascenção no velódromo, 2

O Balão Nacional, uma ascenção no velódromo, 20 de Maio de 1906, foto de Alexandre Cunha, in a.f. C.M.L.

Enchendo o balão Nacional no hipódromo de Palhav

Enchendo o balão Nacional no hipódromo de Palhavã, 20 de Maio de 1906, foto de José Chaves Cruz, in a.f. C.M.L.

A ascenção do balão Nacional, foto de Alberto C

A ascenção do balão Nacional no hipódromo de Palhavã, 20 de Maio de 1906, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.

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Ascensão do balão Nacional, 20 de Maio de 1906, foto de Alexandre Cunha, in a.f. C.M.L.

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 in Ilustração Portuguesa, 2ª série, n.º 14, 28 de Maio de 1906

Largo do Intendente

"Neste Largo, de acanhadas dimensões, mas de larga história, tem havido de tudo: olarias, fábricas, um liceu, palácios com vida própria e intensa, como o do Intendente, que deu o nome ao Largo, e o que foi da Viscondessa da Graça. Teve sempre grande movimento...É que era um nunca acabar de ruídos, que, começavam às duas horas da madrugada dum dia para só acabarem âs duas horas da manhã do dia seguinte.
Não havia folga nem descanso: eram as vendedeiras de hortaliça, petróleo e peixe, com os seus pregões...Eram os carros churriões e caleches, os burros e cavalos de leiteiras e almocreves, os peões, e, que seu eu, tudo o que ia e vinha do Lumiar, Caneças, Bucelas, Sacavém e até de lugares vizinhos, solitários então, hoje cidade como nós, como o Arco do Cego, o Arieiro, o Poço dos Mouros, a Penha de França e o Alto de S. João.
Era uma das saídas naturais de Lisboa e por isso o seu bulício e movimento. Hoje, a vida é ainda aqui bastante intensa, mas o barulho é menor.
A não ser o carregar e descarregar do ferro que se alberga pela vizinhança, em depósitos e armazéns e as buzinas das camionetas de praça que vieram substituir os "ripers", os "choras", e os eléctricos de 10 réis, com a bandeirinha vermelha, que circulavam pelo extremo sul do largo, pela rua e travessa do Benformoso, para a Rua da Palma, pouco mais se ouve.
Tudo mudou, até o chafariz que tanto tempo aqui esteve e que o prédio que lhe nasceu por trás fez deslocar mais para baixo, para junto do Desterro.
Dois espécimenes interessantes teve na sua vizinhança, que ainda perduram, um ainda no seu lugar, a Bica do Desterro, hoje seca, com uma linda pedra de armas de Lisboa do Século XVI; outra a Igreja dos Anjos, que com a mesma conformação, recheio e traça, passou, quando da abertura da Avenida D. Amália, mais para cima, para o local ajardinado onde hoje está."
Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa",A. XIII, n.º 50, Abril 1950

Chafariz do Intendente, ao lado, a fábrica Viúva

Chafariz do Intendente, ao lado, a fábrica Viúva Lamego, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

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 Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº28,de Filipe Folque, in A.M.L.

Largo do Intendente  Rua dos Anjos - alargamento.j

Largo do Intendente Rua dos Anjos - alargamento,1901, in A.M.L.

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Largo do Intendente Rua dos Anjos - alargamento,1901, in A.M.L.

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Antiga Igreja dos Anjos, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

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Igreja dos Anjos, foto de Joshua benoliel, in a.f. C.M.L.

Bica do Desterro, 1951, foto de Eduardo Portugal,

Bica do Desterro, 1951, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Chafariz do Intendente,  1944, foto de Fernando Ma

Chafariz do Intendente, 1944, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.

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Fábrica de cerâmica Viúva Lamego, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

 

"TAVARES"

"O mais notavel de todos os botequins S. Roque era o de Manoel Tavares, na rua d'aquelle nome, nº 13, hoje nº37, loja agora occupada pelo luxuoso café "Tavares".
Esta loja de bebidas era suspeita de liberalista. Em 8 de Junho de 1823, Manoel Tavares foi intimado a comparecer perante o Intendente de Policia, e obrigado a assignar im termo <<de não consentir de futuro que na sua loja houvessem conversações subversivas, e que alterassem o espirito publico, como constava terem havido>>, e concluia dizendo que, no caso contrário <<ficava sujeito a proceder-se contra elle com todo o rigor das leis, e mesmo a ser fechada a sua loja>>.
(Pap. Div. Maço 11).
Uma parte da Policia Secreta irmanava este café com o das "Columnas", o do "Bosque", no Rocio, e o da Arcada, como conventiculos politicos. Outra cita o café do Tavares como ponto onde se reuniam politicos suspeitos, entre elles o capitão de navios Marcos, o Lucas do Sello, o Judeu Simão, e outros mais, que depois de se dirigiam á casa de jogo do largo de S. Roque (Ibidem).
No tempo de D. Miguel tambem ahi se reuniam muito os "malhados", pelo que o botequim soffreu differentes assaltos dos caceteiros, que chegaram até a levar presos os caixeiros e os donos, sendo estes compellidos a fechar as portas do café."
in Lisboa d'outros tempos,Volume 2, de Pinto de Carvalho (Tinop)

Restaurante Tavares, foto de Alberto Carlos Lima,

Restaurante Tavares, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.

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Restaurante Tavares, interior, foto de Leilão Soares e Mendonça, in a.f. C.M.L.

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Os famosos "Gabinetes", na Rua das Gáveas, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

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Restaurante Tavares, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

Concelho de Belém

"A camara municipal de Belem, para cujo concelho S.M. El-Rei transferiu a sua residencia (palacio da Ajuda), solemnisou dignamente o real consorcio, mandando erigir ás portas d'Alcantara, onde começa o novo municipio, um grandioso arco triunphal, que em todas as noites dos festejos nupciaes se illuminou a gaz, com maravilhosa profusão.
Tem 16 metros de altura, e 11 desde a base até ao fecho do arco, que é de 6 metros de largura.
A volta da cimalha é cercada de escudos com as iniciais dos augustos consortes. No attico, e dentro de um retabulo sustido por dois genios, lê-se: CONCELHO DE BELÉM.
Remata o monumento com as novas armas d'este moderno concelho, que se compõem de um escudo partido em pala: na direita está figurado a torre e praia de Belem, com os galeões que foram ao descobrimento da India; na esquerda o busto de Vasco da Gama, e sobre o escudo uma coroa de conde.
Aos lados do arco abriram-se duas tribunas para coreto das musicas que alli tocaram todas as noites.
Estas tribunas foram occupadas pelas orphãs do asylo da Ajuda, na occasião da passagem dos reaes conjuges, sobre os quaes espargiram flores, victoriando-os com alegria, ao som das musicas e acclamações do povo alli reunido.
O projecto e a direcção d'este bello arco foi confiada ao sr. Valentim José Corrêa. A pintura aos srs. António José da Rocha, candido José Xavier e Gualdino Agostinho Candido de Barros."

in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 5.º Ano, n.º 34, 1862

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in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 5.º Ano, n.º 34, 1862

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Armas do Concelho de Belém, in http://purl.pt/4663/3/

"Por occasião das festas do real consorcio affluiram á capital proximo de cem mil pessoas das provincias, graças aos caminhos de ferro e ás novas estradas e diligencias, que vão successivamente pondo em movimento as nossas inertes povoações. Nunca se tinha visto em Lisboa tanta variedade de typos e trajos provincianos. Foi então que o nosso excellente desenhador, o sr. Nogueira da Silva, copiou para o album que tem enriquecido nas suas digressões pelo reino, alguns d'esses typos, quatro dos quaes damos hoje em pequenas gravuras."

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 in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 5.º Ano, n.º 34, 1862

Palácio da Bemposta - Paço da Rainha

"Carlos II de Inglaterra morria em 1685 deixando viúva D. Catarina de Bragança, filha do nosso Rei D. João IV...D. Catarina conservou-se em Hampton Court, até fins de 1692, data em que, se põe a caminho de lisboa...Faz a sua viagem por terra, atravessando a França, a Espanha e Portugal...vem a comitiva, estrada fora, até à capital, aqui chegando em 20 do mesmo mês de Janeiro do ano da graça de 1693...Seu irmão, El-Rei D. PedroII, foi esperá-la ao Limiar; e dali a conduziu, em luzido séquito, até o Palácio de Alcântara, onde D. Catarina ficou instalada.
Pouco tempo ficou a rainha em Alcântara. E durante um período de oito não houve fixá-la em qualquer palácio da capital...É muito provável que tais andanças e incómodos lhe sugerissem o desejo, por esse tempo, duma instalação definitiva, que fosse propriedade sua. Presa a esse desejo, deve a Rainha ter vindo visitar, no Campo da Bemposta, junto ao Campo do Curral e Carreira dos Cavalos, em sítio aprazível e lavado de ares, no termo da cidade, um conjunto de casas nobres e outras mais pequenas, uma horta, uma grande quinta que se estendia bom pedaço para norte, o que lhe pareceu a seu inteiro e real contento. Pertenciam tais propriedades a uma Senhora Dona Francisca Pereira Telles, viúva do Contador-Mor do Reino, Plácido de Castanhede de Moura, e filha do doutor Luiz Pereira de Barros, ao tempo já falecido. A parte vinculada desses bens tinham-lhe vindo em terça do testamento feito por seu citado Pai,- justamente as referidas casas nobres. Oresto adquirira-o o seu falecido marido com o esforço de engenhosa administração.
Depois das voltas de uso, ao tempo, em transacções desta importância, foram os bens vinculados subrogados por um Padrão de 16.466$666 com o juro de 658$666. Pelos bens livres pagou D. Catarina 12.967$547 reis...Obras de adaptação ao futuro <<Paço da Rainha>>, o que houve, segundo todas as probabilidades, foi uma adaptação, não muito profunda, daquelas paredes, à vida simples da Majestade que dentro delas veio viver o resto dos seus dias. As poucas benfeitorias provam-se não apenas com o facto de D. Catarina de Bragança ter morrido em 1705, portanto cerca de três anos depois de fechada a transacção que lhe deu a posse dos prédios, mas ainda vendo a planta do palácio, de divisões mesquinhas e irregulares; nela avulta o pormenor pouco elegante da entrada nobre, praticada num extremo do edifício. É de admitir que o arquitecto, cujo nome é hoje desconhecido, e que recebeu da Rainha o encargo de restaurar as casas nobres que haviam pertencido à viúva de Plácido Castanhede de Moura - tenha concebido o projecto de construir um segundo corpo do palácio, na continuação do primeiro, corpo esse que fosse até à esquina que deita para o Cabeço de Bola. A ser assim, como parece admissível, já o átrio de duas portas, que certamente serviam para a entrada e saída dos coches, ganharia a nobreza que não tem, a despeito dos frontões interrompidos, ladeados de leões e unicórnios, ornados de brazões bipartidos, sobre o escudo em lisonja, da infanta-Rainha, com as armas da Inglaterra e Portugal.
No edifício irregular e feio, onde com o rolar dos tempos os homens foram modificando, derrubando, acrescentando a seu talante, talvez por não lhes impor respeito a trça alheia a uma bela planta original, - existem ainda hoje três salas que, sem serem bonitas, mantêm talvez a sua primitiva expressão. São elas, com a fachada do palácio, o que ainda aqui existe verdadeiramente relacionado com o século XVII."
in Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. X, n.º 40, Outubro 1947

Palácio da Bemposta, capela, joshua.jpg

Palácio da Bemposta, capela, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.

Atlas da carta topográfica de Lisboa, n 20, filip

Atlas da carta topográfica de Lisboa, n 20, filipe folque, in A.M.L.

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Palácio da Bemposta, fotógrafo n/i, 

Palácio da Bemposta, capela, joshua 1.jpg

Palácio da Bemposta, capela, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.

 

Palácio da Bemposta, fachada principal, estudio m

Palácio da Bemposta, fachada principal, estudio mário novais, in a.f. C.M.L.

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Palácio da Bemposta, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

Arco do Marquês de Alegrete

"A população para além da cêrca ia pois crescendo; o movimento pela porta que dava passagem para a antiga mouraria ia naturalmente aumentando. Para mais abrira-se a rua Nova da Palma, da parte de dentro, e um novo postigo se rasgara na muralha.
Mas justamente entre êste novo postigo e a antiga porta é que corria o rêgo que de Arroios vinha, e por isso, dado o crescente movimento de peões que por ali havia, o sítio transformou-se em atoleiro de engolir incautos. Era isto no tempo em que o Trono de Portugal pertencia ao pequeno Rei D. Sebastião.
As providências não se fizeram esperar muito, e uma ponte de pedra ali foi construida...Foi por êste tempo, por alturas do terceiro quartel do século XVI, que encostadas à muralha e portanto ao sul da ponte, se construíram umas casas, casas que por fim vieram a pertencer aos Marqueses de Alegrete...A-par do nome de S. Vicente davam-lhe também o nome de porta da Mouraria. Mais tarde, depois de transformada, e da ida de casa de Alegrete, para a sua vizinhança, passou a ter a denominação de Arco do Marquês de Alegrete. E assim ficou sendo conhecida até hoje...Temos portanto, que, a porta depois denominada de S. Vicente, foi aberta para estabelecer a ligação entre a cidade e um bairro de mouros que, com as suas vizinhanças, teria em 1375 uma população de oito mil habitantes (número exagerado).
Depois já sabemos que o movimento naqueles sítios foi aumentando, principalmente após a abertura da rua Nova da Palma e do respectivo postigo...Pois o arco, aberto em substituição da antiga porta para estabelecer a comunicação com os habitantes de três freguesias, num total de 13.826 (a obra fez-se, ou melhor foi aprovada em 1764), o mesmo arco, o mesmo, sem tirar nem pôr, passados 270 anos -quási três séculos!- estabelece a comunicação entre a parte baixa e comercial da cidade, e as freguesias de Arroios, Penha de França, Anjos, Socorro e pena, freguesias que, segundo o recenseamento de 12 de Dezembro de 1940, tinham então uma população de 153.878 habitantes!!...Faz-se também saber às pessoas dadas a curiosidades de assombrar, que, passavam em cada hora, sob o arco, 100 carros eléctricos e mais de 200 automóveis, além de um razoável número de caminhões, caminhetas e carroças, e que neste Fevereiro de 1945, passam por ali, e também por hora, nada menos de 6.000 e tantos peões!!!
Quaisquer considerações esbateriam a eloquência dos números. Êles bem gritam, por si sós, que estamos perante o problema nº 1 de Lisboa."
in Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa",A. VIII, n.º 30, Abril 1945

Após a demolição do Palácio do Marquês de Alegrete em 1946, o Arco, que em 1945 era considerado o grande obstáculo ao trânsito, ainda se manteve de pé até 1961, altura em que foi demolido.

Arco do Marquês de Alegrete, edu.jpg

   Palácio e Arco do Marquês de Alegrete, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L

Olisipo_N30_Abr1945_0075.jpg

 in Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa",A. VIII, n.º 30, Abril 1945

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Planta Topográfica de Lisboa, 11 G, in A.M.L.

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 Arco do Marquês de Alegrete, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

Arco do Marquês de Alegrete, depois da demoliçã

Arco do Marquês de Alegrete, depois da demolição do Palácio, Março 1949, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Arco do Marquês de Alegrete, Fernando Martinez Po

Arco do Marquês de Alegrete, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.

Arco do Marquês de Alegrete, 1959, foto de Armand

Arco do Marquês de Alegrete, 1959, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.

Arco do Marquês de Alegrete, judah.jpg

Arco do Marquês de Alegrete, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.

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