"No fim de vinte annos de trabalhos nunca interrompidos (1729 a 1748), correu em Lisboa o abundante manancial da fonte chamada da Agua-Livre, proximo da villa de Bellas. Foi um acontecimento que encheu a cidade de alvoroço, e que ella registou como um dos mais importantes successos da sua historia. Depois de tantos esforços mallogrados, e de tantas necessidades mal satisfeitas, aquelle facto foi para Lisboa um verdadeiro triumpho. O architecto comprehendeu a alta significação d'esse facto, erigindo dois arcos triumphaes para darem passagem ás tão appetecidas aguas na sua entrada na capital. O <<Arco Grande das Amoreiras>>, que atravessa a rua das Aguas-Livres, é o mais bello e grandioso dos dois; e devia sel-o, porque, levantado ás portas da cidade, foi elle o primeiro que recebeu o manancial, e lhe franqueou o passo para o interior da povoação. Assim tambem elle ostenta as inscripções commemorativas d'aquelle fausto successo, e da fundação do magnifico aqueducto das Aguas-Livres. O arco chamado de <<S. Bento>>, por se erguer sobre a rua d'este nome, e junto do antigo mosteiro benedictino, hoje palacio das Cortes, é menos elevado e mais singelo que o primeiro, mas é, como este, construido de excellente cantaria, e de ordem dorica. São perfeitamente similhantes as suas duas frentes, do norte e sul. Da parte de léste fica contiguo ás casas que orlam aquella rua. Da parte de oeste encosta-se á muralha, coroada de grades de ferro, a qual sustenta a almeda que se estende por toda a frontaria principal do palacio das Cortes...A construcção d'este arco é muito posterior ao aqueducto geral, porque os frades do mosteiro de S. Bento a contrariaram o mais possivel, por lhe fazer o aqueducto pejamento na cêrca." in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 6.º Ano, n.º 3, 1863
Arco das Amoreiras, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa nº 26, de Filipe Folque, in A.M.L.
Arco das Amoreiras, foto de José Chaves Cruz, in a.f. C.M.L.
Arco das Amoreiras, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.
Arco das Amoreiras, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Arco da rua de São Bento, foto de Machado & Sousa, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa nº 41, de Filipe Folque, in A.M.L.
Arco de S. Bento, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Arco de São Bento, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Arco de São Bento, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
ANTIGUIDADE DO PALACIO DO CUNHAL DAS BOLAS " Pelos annos de 1737 pertencia este palácio a D. Antonio de Mello de Castro e Mendonça, filho de D. Violante Casimira de Mendonça, casado com D. Maria Francisca Bonifacia de Vilhena, fidalgo da casa real, e commendador da ordem de S. Thiago. Pouco antes, Paulo de Carvalho e Athaide, principal da santa egreja patriarchal, para se pagar de certas quantias que D. Antonio lhe devia, por execução judicial que lhe moveu, arrematou em praça a maior parte das <<casas ao cunhal das bolas>>, como livres, e tomou posse d'ellas. Recorreu o executado ao favor do soberano, e conseguiu d'elle a especial graça de um decreto para poder remir, apesar de terem decorrido alguns annos, a parte d'aquellle palacio que lhe fora rematada, com a condição de pagar ao rematante o preço da arrematação e toda a sua divida. Não achando porém dinheiro para desfructar a graça da remissão, recorreu de novo a el-rei, e precedendo o consentimento do immediato successor, e as mais formalidades necessarias, alcançou uma provisão regia para obrigar e hypothecar, sem limitação de tempo, não sómente a parte do palacio que pretendia remir, mas tambem o restante d'elle com todas as suas pertenças, e todos os mais bens livres e do morgado, com seus rendimentos, à quantia de quinze mil cruzados a juro de 6 1/4 por cento ao anno, com a condição de que esta quantia fosse destinada unicamente á dita remissão, e depositada por quem a désse no juizo das capellas, para por elle ser pago o arrematante. Com a segurança d'esta real provisão perpétua, e de se transferir o direito do rematante para quem dêsse o dinheiro, conseguiu D. Antonio, por escriptura publica de 16 de fevereiro de 1737, haver de Antonio de Castro Alvellos, conego da sé oriental de Lisboa, nove mil cruzados. Mas não se tendo podido ultimar o contrato por causa de varios incidentes sobrevindos, trespassou o dito conego a sua acção e direitos para seu sobrinho o beneficiado Francisco de Castro Alvellos, com quem D. Antonio celebrou novo contrato em 21 de maio de 1738, pelo qual aos nove mil cruzados se juntaram mais tres, e se reduziu a 440:000 réis a renda annual do dito palácio, que na antiga escriptura se estipulára em 480:000, para pagamento do juro do capital mutuado, com arrendamento do mesmo palacio ao mutuante. A este tempo era já fallecido o principal Paulo de Carvalho e Athaide, e em força da real provisão, e d'este contrato, se fez com os herdeiros d'elle a remissão da parte do palacio que fôra executada." in Archivo pittoresco : semanario illustrado,6.º Ano, n.º 20, 1863
Cunhal das Bolas, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº 42, in A.M.L.
Levantamento topográfico de Francisco Goullard nº 290, in A.M.L.
Cunhal das Bolas, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Cunhal das Bolas, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Frades de pedra no Cunhal das Bolas, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.