Na altura da extinção das ordens religiosas o Bairro da Graça sofre uma grande mudança, o Convento passa a Quartel, a Igreja do Largo de Santa Marinha é demolida, e grande parte dos terrenos conventuais foram expropriados e vendidos a particulares.
Largo de Santa Marinha, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Adenda - às 13:16, do dia 05-02-2017
A Igreja de Santa Marinha segundo, o Padre Carvalho da Costa no seu tempo (1712), tinha uma inscrição junto à porta, que dizia ter sido sagrada a Igreja em 12 de Dezembro de 1222. O seu local era ao centro do actual Largo de Santa Marinha, que foi formado após a demolição do templo. A Igreja ficou pouco danificada pelo terramoto de 1755, e continuaram nela os actos religiosos até 1834. A demolição foi resolvida em 1837, mas só se iniciou em Janeiro de 1845, concluindo-se em 1853. O terreno foi entregue à Câmara Municipal, pelo decreto de 23 de Novembro de 1843, para ficar sendo via pública. Bibliografia: Dispersos, Vol. I, de Augusto Vieira da Silva
Igreja de Santa Marinha, desenho da autoria de Gonzaga Pereira, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº 37, de Filipe Folque, in A.M.L.
"No dia 6 foi inaugurado Pelo Chefe do Estado o monumento comemorativo da Guerra Peninsular, cuja primeira pedra foi lançada há vinte anos. Imensa multidão presenciou o acto solene, a que presidiu o Chefe do Estado. Estavam presentes todo o mundo oficial, membros do Govêrno e os embaixadores de Espanha e Inglaterra, êste últumo neto paterno de lord William Russel, que acompanhou lord Welligton a Portugal durante a Guerra Peninsular." in Ilustração N.º 2, de 1933
Monumento comemorativo da guerra peninsular no Campo Grande, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Monumento notavelmente descritivo do drama da guerra imposta pela ambição de Napoleão Bonaparte, erigido na Praça Mouzinho de Albuquerque (Entrecampos) e inaugurado a 8 de Janeiro de 1933. José de Oliveira Ferreira, o escultor do monumento, impressiona-nos com o dramático das cenas, trabalhadas em pedra, que compôs em torno da base. O fulcro do monumento, trabalhado em bronze, simboliza a expulsão das tropas napoleónicas através da representação, no topo da coluna de pedra, de belas figuras que rodeiam a Pátria, liberta e vitoriosa, enquanto alguns soldados e populares apoiam, defendem e ajudam a mesma a expulsar a simbólica águia imperial de Napoleão, que sobre eles esvoaça. Na face principal do pedestal podemos ler a expressão do pensamento nacional reconhecido: "Ao Povo e aos Heróis da Guerra Peninsular" e, ainda, uma outra inscrição: "Levantamento popular pela Independência - Junho 1808". in http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/herois-da-guerra-peninsular-monumento
Lançamento da 1ª pedra do monumento da Guerra Peninsular,com o rei D. Manuel II,a presidir à cerimónia, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Parada Militar no dia da inauguração do monumento da Guerra Peninsular, foto Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.
O presidente da República, general Oscar Fragoso Carmona, procede ao descerramento do monumento da Guerra Peninsular, foto Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.
Maqueta para o monumento da Guerra Peninsular, projecto do arquitecto Ventura Terra, na sala Portugal, da Sociedade de Geografia, 1909, foto de Joshua Benoliel
"O QUE SERIA, NA PRAÇA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE, O ARCO TRIUMPHAL PROJECTADO PELO SR. VENTURA TERRA, E O QUE SERÁ, PROPORCIONALMENTE, O MONUMENTO PREMIADO EM CONCURSO Os autores dos dois projectos: o architecto sr. Ventura Terra, e os srs. José e Francisco d'Oliveira Ferreira" Legenda desta página da Ilustração Portuguesa, nº 163, de 1909
"No louvavel desejo de libertar dos açambarcadores as classes consumidoras, principalmente as pobres, que já lutavam com muitas outras dificuldades de todo o genero para poderem viver, sem ser a da alimentação, o chefe do Estado, reconhecendo as vantagens do livre cambismo, resolvera a creação de vinte armazens reguladores de preço. Agerencia d'estes estabelecimentos, de que se inauguraram imediatamente, quatro cujos vantajosos resultados logo foram reconhecidos, foi confiada a pessoas de toda a competencia e que se esforçam por que essa idéa vingue como vingou a da <<Assistencia 5 de Dezembro>>, outra instituição altuista, que muito beneficia do auxilio material e moral do ilustre chefe de Estado. A concorrencia aos armazens reguladores, em que se vendem generos alimenticios de primeira necessidade que não apareciam nas mercearias, tem sido, como é de prevêr, enormissimo. Comtudo, a boa orientação de quem superintende n'estes serviços tem obstado a que se dêem conflitos e a que o publico deixe de ser attendido como merece." in Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 665, 18 de Novembro de 1918
No Terreiro do Trigo, fornecimento de géneros alimentícios distribuídos e tabelados pelo Governo num armazém, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Na Junqueira, as pessoas aguardam a abertura do armazém regulador de preços, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Na Junqueira, as pessoas aguardam a abertura do armazém regulador de preços, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
"O Instituto Superior Técnico (IST) foi criado em 1911 fruto da divisão do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. O primeiro Diretor do IST (1911-1922) foi o Engenheiro Alfredo Bensaúde que, para além de promover uma profunda renovação nos métodos de ensino da Engenharia em Portugal, foi o responsável pela criação no IST dos primeiros cursos de Engenharia: Minas, Civil, Mecânica, Eletrotécnica e Químico-Industrial. Mais tarde, com o Engenheiro Duarte Pacheco como Diretor do IST (1927-1932), dá-se início à construção do atual campus universitário da Alameda, em Lisboa. É durante este período que o IST passa a integrar a Universidade Técnica de Lisboa. Ao longo da década seguinte os engenheiros formados no IST vão aumentando a sua reputação como profissionais de elevada competência técnica, visível através da concretização de grandes obras de engenharia impulsionadas por Duarte Pacheco, então Ministro das Obras Públicas de Portugal." in https://tecnico.ulisboa.pt/pt/sobre-IST/historia/
Instituto Superior Técnico, foto de Amadeu Ferrari, in a.f. C.M.L.
O conjunto arquitectónico do IST, foi concebido como uma "Acrópole" sobre o vale da avenida Almirante Reis e num dos extremos da Alameda Dom Afonso Henriques. O arquitecto foi Porfírio Pardal Monteiro, tendo sido inaugurado em 1935. O conjunto dos sete edifícios é exemplo importante do Modernismo Português e representa uma segunda fase na obra de Porfírio Pardal Monteiro onde a simplificação das formas e quase ausência de ornamentação são características fundamentais.
Fotografia aérea do instituto Superior Técnico em construção, foto de Pinheiro Correia, in a.f. C.M.L.
Fotografia aérea dos terrenos que circundam o instituto Superior Técnico, foto de Pinheiro Correia, in a.f. C.M.L.
Instituto Superior Técnico, foto de Amadeu Ferrari, in a.f. C.M.L.
"É já um lugar comum chamar à Praça do Rossio a sala de visitas de Lisboa. Concedâmos que todo o vasto recinto tem hoje, efectivamente, o caracter peculiar a uma capital. Mas é talvez o pombalino, beliscado aqui e ali por incómoda alteração, é o Arco-Bandeira, serão mesmo os dois <<pastiches>> do Teatro Nacional e da estátua de D. pedro, que ao local dão uma presença, um estilo nítidamente lisboeta, como não é possível encontrar em outra parte. O Rossio, a Praça do Rossio, que o povo, com instinto seguro, nunca chamou a Praça de D. Pedro, desprende da sua perspectiva, do recorte regular dos seus prédios e janelas, sobretudo quando se vem de fora...A Praça do Rossio, nesses momentos, quando no ar tem seu quê de amigo, e nos trata por tu, e nos acolhe com sua graça alfacinha - é o local de privilégio de Lisboa, o lugar bruxo que nos sabe sempre bem atavessar, mesmo sem pretexto aparente, sem necessidade. Pincelada à noite, em suas mansardas, pelo vermelho, o azul, o verde liminoso dos tubos neon, dir-se-ia que a Praça do Rossio, escovada e moderna, ganha outro caracter." in Olisipo : boletim do grupo «Amigos de Lisboa», Ano II, n.º 5, Janeiro de 1939
Rossio, foto de Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
Rossio, anos 20, foto de Manuel Tavares, in a.f. C.M.L.
Arco do Bandeira, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Rossio, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
Rossio, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Rossio, foto de Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
"O mercado novo, do Chão do Loureiro, abriu hoje, pela primeira vez. Toda a manhã foi um corropio de gente, compradores e curiosos. E o aspecto desta praça abastecedora é simplesmente admirável, espécie de trono de luz e cor, e movimento, e fartura, com seus cinco pavimentos, em lances panoramicos. A inauguração simbólica realizou-se ás 10 horas. O sr. Presidente da Camara Municipal, que se fazia acompanhar pelo sr. vice-presidente, era esperado á porta do segundo pavimento pelo sr. Almeida de Eça, director dos serviços de abastecimento, dr. Mário Ribeiro e chefe da respectiva repartição, que fizeram <<as honras da casa>>...Criam-se, com estes mercados, novos hábitos, uma vida progressiva com outro nivel superior...o Município reconhece que muito se tem feito e fará." in Diário de Lisboa, 25 de Outubro de 1951
Mercado do Chão do Loureiro, foto de Firmino Marques da Costa, in a.f. C.M.L.
Projecto de instalação de um mercado no Chão do Loureiro, 1947, pág 28, in A.M.L.
Obras no mercado do Chão do Loureiro,1951, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.
Projecto de instalação de um mercado no Chão do Loureiro, 1947, pág 29, in A.M.L.
Obras no mercado do Chão do Loureiro,1951, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.
Projecto de instalação de um mercado no Chão do Loureiro, 1947, pág 30, in A.M.L.
Mercado do Chão do Loureiro, 23 Outubro de 1951, foto de Firmino Marques da Costa, in a.f. C.M.L.
Projecto de instalação de um mercado no Chão do Loureiro, 1947, pág 31, in A.M.L.
Visita da imprensa ao novo mercado do Chão do Loureiro, 23 Outubro de 1951, foto de Firmino Marques da Costa, in a.f. C.M.L.
Projecto de instalação de um mercado no Chão do Loureiro, 1947, pág 32, in A.M.L.
Inauguração do mercado do Chão do Loureiro, 25 Outubro de 1951, foto de Firmino Marques da Costa, in a.f. C.M.L.
Projecto de instalação de um mercado no Chão do Loureiro, pág 33, in A.M.L.
"Um triste acontecimento commoveu ha poucos dias Lisboa e o resto do paiz. Abateu o corpo central da nova galeria em construcção junto ao magnifico templo dos Jeronynos, e que constituindo a frente da Casa Pia, estava a ponto de concluir-se depois de longos annos de trabalhos e de muitos capitaes dispendidos, devendo então, com o monumento que recorda os nossos feitos passados, constituir um todo harmonico, especimen d'essa architectura maravilhosa que hoje asignala a gloriosa epocha de D. Manuel I, d'onde tirou o nome. O desmoronamento teve logar no dia 18 de dezembro pelas 9 horas da manhã, e do altivo torreão que já se elevava aos ares perto talvez de trinta metros, apenas resta hoje de pé, quasi intacto felizmente, o corpo inferior, como a nossa gravura o representa, salvando-se a varanda gothica, de admiravel desenho, e o portico ligeiramente damnificado. Poucos dias antes fôra collocada no nicho superior á primeira varanda, uma magnifica estatua da Caridade, cinzelada pelo distincto esculptor Simões de Almeida, e essa mesma teve a cabeça decepada. N'este desastre houve sobretudo a lamentar a morte de oito vidas. Oito dos trabalhadores que lidavam na obra, não podendo fugir a tempo, foram colhidos pela derrocada, ficando soterrados n'aquella pesada mole de areia e de cantaria...Lamenta-se que, depois de oito vidas de pobres trabalhadores, se hajam perdido com o desastre centenas de contos de réis, quando era talvez melhor ter deixado de os empregar de semelhante fôrma. Em todo o caso o que seria hoje um absurdo maior era reedificar o torreão derrocado pelo plano primitivo. Não pode ser: é preciso que a opinião dos homens competentes intervenha e que o edificio levantado ao lado dos Jeronymos mostre ao menos que no nosso tempo ainda se comprehende a harmonia architectonica d'aquelle magnifico templo." in O Ocidente : revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, N.º 25 ( 1 Jan. 1879)
Mosteiro dos Jerónimos, ruínas causadas pelo desmoronamento da torre central, 1878, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Imagem da revista "O Ocidente", de 1 Janeiro de 1879
Mosteiro dos Jerónimos, espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Mosteiro dos Jerónimos, espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Imagem da revista "O Ocidente", de 15 Janeiro de 1879
Mosteiro dos Jerónimos, fachada, foto de Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.
"Consagrada e inaugurada em 1951, a Igreja do Santo Condestável, localizada entre o Mercado de Campo de Ourique e a Rua Saraiva de Carvalho, foi edificada no contexto das "Novas Igrejas", um desenvolvimento peculiar do programa modernista que procurou conciliar as proporções ensaiadas pelo modernismo e permitidas pelos novos materiais e técnicas, recorrendo ao revivalismo dos estilos. A Igreja do Santo Condestável é um templo neogótico, projectado em 1946, pelo arq. Vasco Regaleira. No interior acolhe as relíquias de D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, num túmulo relicário executado, em 1953, pelo escultor Domingos Soares Branco. Merecem, ainda, referência os vitrais que iluminam os altares laterais, da autoria de Almada Negreiros, alusivos à devoção do Santo Condestável a Cristo e Sua Mãe, e as esculturas de Leopoldo de Almeida." in http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/igreja-do-santo-condestavel
Lançamento da 1ª pedra para a construção da igreja do Santo Condestável, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
O Cardeal Patriarca Dom Manuel Gonçalves Cerejeira dirige-se para o local onde se vai erguer a Igreja do Santo Condestável, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Lançamento e benção da primeira pedra para a construção da Igreja do Santo Condestável em que tomou parte o Cardeal Patriarca Manuel Gonçalves Cerejeira, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Lançamento da 1ª pedra para a construção da Igreja do Santo Condestável, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
"1946-1951 - construção da igreja, conforme projecto do arquitecto Vasco de Morais Palmeiro Regaleira (1897-1968), com decoração de José de Almada Negreiros; pintura da abóbada da capela-mor por Portela Júnior 1953 - o escultor Domingos Soares Branco (n. 1925) realiza o túmulo relicário de D. Nuno Alvares Pereira para ser colocado na igreja; 1951 - consagração da igreja; 14 Agosto - inauguração da obra, tendo esta sido realizada com contribuição financeira do Exército português; colocação na igreja das cinzas do Beato Nuno Álvares Pereira, provenientes do Convento do Carmo."
"Raras são as cidades que apresentam panoramas tão variados e pitorescos, como a nossa formosíssima Lisboa. Vista das suas eminencias, esquece-se tudo, porque o viajante é a cada passo surprehendido por uma variante de horizontes, que, em mais caprichosa curva, se lhe desenrolam, matizados, aqui e acolá, de verdura e de flores. O panorama que se nos apresenta, collocados na alameda do passeio de S. Pedro d'Alcantara, é um admiravel conjuncto de tudo quanto os homens e a natureza construem. Descobrem-se dahi os bairros onde viveram os nossos primeiros avós; castellos onde os fundadores da nossa nonarchia obraram prodigios de valor inimitavel; templos soberbos de antiguidade desconhecida; ruinas elegantes; igrejas modestas, onde o povo, em festas periodicas, folga, canta e ri, nos vistosos arraiaes, levantados pela honra dos seus santos predilectos; a parte mais tranquilla desse belo rio de prata, sem rival, que se chama Tejo; montanhas longinquas, envoltas no seu gase anillado; e tudo coroado por um ceo de puro e transparente azul, quasi imperturbavel. Não é facil ao artista escolher, em taes circumstancias, uma parte deste admirável scenario; mas, quando a isso se veja obrigado, só tem um recurso, que é lançar mão da sorte." in O panorama : jornal litterário e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, Vol. XVII, 2º da 5ª Série, N.º 4 de 1867
Panorâmica tirada do jardim de São Pedro de Alcântara sobre a colina do Castelo, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Panorâmica tirada de São Pedro de Alcântara, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Panorâmica tirada de São Pedro de Alcântara, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Panorâmica de Lisboa (esq), foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Panorâmica de Lisboa (dir), foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
"A EGREJA DE SANTO ANTÃO. - Nos fins do reinado de D. Sebastião intentaram os jesuítas edificar nas visinhanças do Campo de Sant'Anna um grande collegio para cabeça de sua ordem. Porém, apesar da boa vontade e auxilio do soberano e da decidida protecção do Cardeal infante D. Henrique, encontraram taes opposições, que se viram obrigados a adiar o começo da obra, até que elevado ao throno este ultimo principe pela catastrophe de Arcacerquivir, trataram os padres de dar principio á fundação, julgando-se fortes com o favor do rei. Lançou-se a primeira pedra do novo collegio sem apparato, quasi ás escondidas para evitar contrariedades, no dia 11 de maio de 1579, porém assim que isto constou, acidiu ao sitio muita gente do bairro, e ás pedradas obrigou os operarios a fugirem da obra. Desde então travou-se uma lucta porfiosa e tenaz, que, aggravando-se cada vez mais, fez por muitas vezes do local das obras um campo de batalha. Por fim já não era só uma querella de visinhos, era uma questão em que se empenhava toda a cidade, que não podia ver traçado um edificio tão vasto, em que se iam consumir improductivamente immensos capitaes, estando o paiz n'uma situação a todos os respeitos tão precaria e afflictiva. A insistencia dos padres e a oposição do povo chegou a ponto de ir o senado de Lisboa em corporação a el-rei pedir, que mandasse parar com as obras, exponde-lhe as justas queixas dos habitantes. Os trabalhos pararam com effeito, porém pouco depois falleceu o cardeal rei, os exercitos de Castella invadiram o paiz, Portugal curvou-se ao jugo de Filippe II, e os portuguezes com a perda da independencia cairam em completo desalento. E assim tiveram os jesuitas occasião favoravel para recomeçarem a obra com ardor. Entretanto, posto que lhes não faltou diligencia nem dinheiro, a grandeza do edificio era tal, que só se concluiu em 1652, dizendo-se a primeira missa na sua egreja, que foi dedicada a Santo Ignacio, em 31 de julho d'esse anno. Porém como os padres que foram occupar este collegio viviam no de Santo Antão, proximo da Mouraria, que depois venderam aos frades da Graça, sempre o povo ficou chamando áquelle Santo Antão o Novo. N'elle se hospedou Cosme III, grã-duque de Toscana por occasião da sua visita a Lisboa em 1670. O terremoto de 1755 derrubando a cúpula do templo, abateu-lhe a aboboda do cruzeiro e da capella-môr, e uma das torres da frontaria. O edificio do collegio ficou bastante arruinado, mas reconstruiu-se, e logo depois da expulsão dos jesuitas em 1759 foi destinado para receber os enfermos do hospital de Todos os Santos, destruido por aquelle cataclismo, recebendo então o nome de hospital de S. José. A egreja conservou-se em ruinas; mas tendo-lhe poupado o terremoto as paredes e capellas, ainda ha poucos annos era um dos mais bellos monumentos que esta capital tinha para offerecer á attenção dos estrangeiros, pela variedade e riqueza dos marmores que o vestiam de alto a baixo, pelo primor das esculpturas e mosaicos, pella inteligente distribuição dos ornatos, e finalmente pelas boas proporções de todas as suas partes. Por taes razões muitos architectos nacionaes e estrangeiros, e distinctos viajantes, que visitaram esta capital no primeiro quartel d'este seculo, são uniformes em dizerem que a egreja de Santo Antão era, d'entre os mais vastos e sumptuosos templos de Lisboa, a que tinha a primazia de mais rica e mais bella aos olhos da arte. Infelizmente tem pesado sobre este monumento, de ha vinte e tantos annos para cá, o furor vandalico da destruição. Derrubaram-lhe a formosissima torre, que lhe restava das duas que outr'ora adornavam a frontaria, e arriaram-lhe também toda a parte superior da fachada. Despojaram-no interiormente de magnificas columnas, e de primorosos mosaicos e esculpturas, sobre tudo na capella-môr. Todavia, apesar de tantas injurias e devastações, ainda se vêem a vastidão do templo e alguns restos de suas galas, que deixam julgar da sua antiga riqueza." in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 5.º Ano, n.º 47, 1862
Hospital de São José, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.