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Paixão por Lisboa

Espaço dedicado a memórias desta cidade

Paixão por Lisboa

Espaço dedicado a memórias desta cidade

Viaduto Duarte Pacheco

"No dia 19 de Fevereiro de 1939, foi adjudicada a uma firma de empreitadas de obras públicas, a construção do viaduto que está sendo lançado sôbre o vale de Alcântara, entre os Sete Moinhos e a fronteira encosta de Monsanto e que servirá para lançar a entrada de acesso à auto-estrada Lisboa-Cascais.
A obra foi adjudicada por 9.796 contos e, para se fazer uma idea do que será o notável viaduto, bastará tomar-se conhecimento dos seguintes pormenores: tem cêrca de 450 metros de extensão; totalmente construído em cimento armado, terá a largura de vinte e quatro metros, nos quais estão incluídos dois passeios laterais de três metros cada; duas pilastras gigantes, com nove pavimentos interiores e escadas e elevadores de acesso, suportarão o magnífico viaduto; toda a ponte e interior das pilastras serão iluminados profusamente...O projecto é da autoria do Engenheiro João Alberto Barbosa Carmona, e, na sua organização definitiva, trabalharam, durante seis mêses, além de outro pessoal, todos os engenheiros da Divisão de Pontes da Junta Autónoma de Estradas.
A construção do lanço de auto-estrada compreendida entre o viaduto e as proximidades de Linda-a-Velha, numa extensão de 6.423 metros, incluindo cêrca de dois quilómetros para estabelecer a completa ligação de Lisboa com o projectado Estádio Nacional, foi igualmente adjudicada a uma firma portuguêsa. A largura desta auto-estrada será de vinte e dois metros, compreendendo duas faixas de rodagem, de sete metros e meio de largura, cada uma, separadas por uma faixa arrelvada de três metros.
in Da Estremadura : boletim da Junta de Província da Estremadura, 1939

Vale de Alcântara com o viaduto Duarte Pacheco em

Vale de Alcântara com o viaduto Duarte Pacheco em construção, 1943, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

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Construção do viaduto Duarte Pacheco, foto Estúdio Horácio Novais, in Biblioteca de Arte / Art Library Fundação Calouste Gulbenkian

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O Viaduto foi inaugurado em 28 de Maio de 1944, homenageando Duarte Pachaco, de quem recebeu o nome, e coincidiu, com a inauguração da auto-estrada Lisboa-Estádio Nacional.

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Inauguração do Viaduto Duarte Pacheco, foto Estúdio Horácio Novais, in Biblioteca de Arte / Art Library Fundação Calouste Gulbenkian

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Viaduto Duarte Pacheco, cerimónia de inauguração, foto de Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.

Inauguração do Viaduto Duarte Pacheco, foto de F

Inauguração do Viaduto Duarte Pacheco, foto de Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.

O problema do abastecimento de leite à cidade de Lisboa

"Vem de longe a preocupação dos povos de consumirem bom leite, parcela, afinal, da bondade que se tem procurado assegurar a todos os alimentos; mas também de longe vem a insatisfação de lucros sem cuidar dos inconvenientes a que o consumidor fique sujeito...O leite, em consequência do seu aspecto físico e da sua riqueza química, é muito pr´oprio para ser adulterado, e está sujeito a contaminar-se de variadissimos micróbios. Adultera-se o leite, por exemplo, pela adição de várias substâncias, tais como a água, o bicabornato de sódio, etc., e o pouco escrúpulo tem chegado à adição de urina...diz o Dr Leonardo de Almeida, dos serviços médico-veterinários do Ministério da Agricultura, acêrca do leite de Lisboa, baseado em análises recentes: em 96 amostras, 100% são más pelo teor bacteriológico - amostras com mais de 10.000.000, e algumas com 100.000.000 de bactérias por centímetro cúbico - e são más ainda por terem coli-bacilo."
in Olisipo : boletim do grupo «Amigos de Lisboa», Ano I, n.º 1, Janeiro de 1938

O leite perigoso, foto de Joshua Benoliel, in a.f.

O leite perigoso,1910, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.

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Leite de cabra,1910, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.

Distribuição de leite aos leiteiros, 1956, foto

Distribuição de leite aos leiteiros, 1956, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.

Bica da Alfândega

"A agua para a alfandega grande de Lisboa, sahe do encanamento da mina sete palmos e uma pollegada adiante da Pia, que se acha ao entrar da porta, - vai por cano tambem separado por baixo dos degráos da escada - segue pela rua dos Bacalhoeiros até á dos Arameiros - e voltando para esta, atravessa a Rua Nova d'Alfandega - vai pelo Boqueirão dos Funileiros, a entrar por baixo do Portão de ferro que fica em frente do mesmo Boqueirão, até proximo do primeiro Telheiro, e Pateo da mesma Alfandega."

in Memoria sobre chafarizes, bicas, fontes, e poços públicos de Lisboa, Belem e muitos logares do termo

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Bica da Alfândega, 1949, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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  Planta Topográfica de Lisboa, 11 E, in A.M.L.

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Bica da Alfândega, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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Local onde existiu a bica da Alfândega, 1951, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Mina abastecedora de água para a bica da Alfânde

Mina abastecedora de água para a bica da Alfândega, local de entrada da galeria, Rua Afonso de Albuquerque, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

 

Claustro dos Jerónimos

"A história do claustro dos Jerónimos pode resumir-se em poucas palavras. Fêz evidentemente logo parte da primitiva traça do mosteiro, cujas obras começaram em 1502 e cuja direcção pode atribuir-se a Boytac.
Nenhum dos documentos anteriores a 1514 dá indício da marcha da sua construção, e o famoso rol das contas de Belém apenas deixa entrever possíveis referências ao claustro no período 1514-1516, o último a que presidiu Boytac.
Mas, em Janeiro de 1517 tudo retomou nova actividade sob a direcção de João Castilho (que abrangia o claustro, o portal sul, a sacristia e a casa do capítulo) mas ainda por duas empreitadas especiais de Filipe Henriques e Pero de Trilho, o primeiro, português, filho de Mateus Fernandes da Batalha, o segundo espanhol, que já trabalhava com Diogo de Arrruda no paço da Ribeira.
Para ver a importância predominante que o claustro tomara na obra de Belém, basta comparar as suas empreitadas, no número de oficiais, com os das restante construção do mosteiro.
A do portal principal, de mestre Nicolau, tinha 11 oficiais; a das seis capelas do côro, 20; a do refeitório, 15; ado portal sul, cêrca de 20 - enquanto as três empreitadas do claustro empregavam na mesma época (1517): João de Castilho, 50 oficiais; filipe Henriques 55, e Pero de Trilho, 38, isto é, um total superior a 140 oficiais, muito mais que as restantes empreitadas juntas."

in Lusitania : revista de estudos portugueses, Volume 1, Fascículo II, Março de 1924

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Alexand

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Alexandre Cunha, in a.f. C.M.L.

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Eduardo

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Eduardo

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de José C

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de José Chaves Cruz, in a.f. C.M.L.

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Antóni

Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de António Castelo Branco, in a.f. C.M.L.

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Mosteiro dos Jerónimos, claustro, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.

 

Casebres do Loreto

DOCUMENTO N º 9.

Representação ao Governo, pedindo a expropriação do terrreno que medêa entre o Largo das duas Igrejas

"SENHORA!- Sendo incontestavel a utilidade que resulta ao público do aformoseamento desta Cidade, para o qual a Camara Municipal muito tem concorrido, e está prompta a concorrer por todos os meios ao seu alcance, não póde por isso a mesma camara deixar de vir perante Vossa Magestade pedir as necessarias providencias, para levar a effeito um melhoramento importantíssimo.
Em frente do Largo das duas Igrejas existe um pardieiro informe, que outr'ora foi o Palacio do Marquez de Marialva, o qual tem frentes para a rua da Horta Sêcca, dita do Loreto, e travessa dos Gatos, na maior parte do qual se acham differentes barracas, não só irregulares, mas que ameaçam eminente perigo aos viandantes, principalmente a frente da rua da Horta Sêcca. Estas barracas não só existem ali contra o Prospecto da Cidade, mas tornam muito defeituoso um dos mais bellos sitios da Capital e o mais concorrido, quando é certo que naquellas imediações ha os mais bellos predios, e residem pessoas das mais abundantes dea Cidade, tornando-se por estes motivos um contraste disforme entre a bellesa e elegancia com a hediondez de taes barracas.
A Camara, pois, persuadida do interesse que Vossa Magestade, e o seu illustrado Governo tem pelo embellesamento da Capital, vem rogar-lhe que em beneficio público se Digne dar as providencias necessarias, a fim de ser expropriado o dito terreno, para serem demolidas as citadas barracas, e poder a Camara embellesar aquelle local como merece e de que tão digno se torna por estar no centro da Cidade. A Camara espera que Vossa Magestade de Dignará tomar em consideração a presente Representação, dando as providencias solicitadas.
Vossa Magestade, porém, resolverá o mais justo.
Deos Guarde a Vossa Magestade por muitos e dilatados annos, como todos havemos mister. Camara, 23 de Dezembro de 1850."
in Synopse dos principaes actos administractivos da Camara Municipal de Lisboa do anno 1850

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Antigo palácio do Marquês de Marialva em 1859; fachada sobre o largo das Duas Igrejas - desenho de Júlio de Castilho, de 1859. Foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

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Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº 42, 1856, de Filipe Folque, in A.M.L.

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Antigo palácio do Marquês de Marialva em 1859; fachada sobre a rua Direita do Loreto em 1859 - desenho de Júlio de Castilho, de 1859. Foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

 

Real Palácio e Quinta de Belém

"Se exceptuarmos os paços da Ribeira, edificados por el-rei D. Manuel, nunca os nonarchas portuguezes tiveram residencia, verdadeiramente regia na capital dos seus estados. Proveiu isto de nem sempre estar a corte em Lisboa, porque d'antes era por vezes insalubre e apestada a cidade. D. João V, que teve grande tendencia para edificações sumptuosas, projectou fazer um palacio real, para o que, em 1719, mandou tirar uma planta exacta de Lisboa, convocando uma junta de fidalgos, padres, medicos e architectos, para discutir com elles, se o paço continuaria, mais ampliado, na Ribeira, onde estava, ou se edificaria outro em Buenos-Ayres, no ponto eminente á ribeira de Alcantara...Á vista de tão contrarios pareceres, o rei desistiu do seu intento.
Mas como D. João V não podia reinar sem trazer obras, passados poucos annos, em 1726, comprou ao conde de Aveiras, por 200 mil cruzados, o bello palacio e jardim que elle tinha no largo de Belem, para alli fazer residencia real durante o verão. Comprou depois ao conde de S. Lourenço um palacete e quinta que este possuia para o lado da calçada da Ajuda. Com estas propriedades, e mais algumas casas circunvisinhas, formou o palacio real e quinta de Belem...A frontaria deste palacio fica no fundo do antigo e espaçoso largo de Belém, que actualmente se denomina praça de D. Fernando. Olha desaffrontadamente para o Tejo, que alli tem um excelente caes mandado fazer por el-rei D. José..."
in http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ArquivoP/1860/TomoIII/N012/N012_item1/P2.html

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Palácio de Belém, 1903, foto de Leilão Soares e Mendonça, in a.f. C.M.L.

Palácio de Belém, residência oficial do Preside

Palácio de Belém, vista para Nascente, 1903, foto de Leilão Soares e Mendonça, in a.f. C.M.L.

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http://purl.pt/3371/3/

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Palácio Real de Belém, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

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Palácio Real de Belém, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

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 Palácio Nacional de Belém,foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Alfândega de Lisboa

"A 8 de Setembro, ficaram instalados, no Terreiro do Paço, no antigo Mercado Central de Produtos Agricolas e Bôlsa Agricola, os serviços da Alfândega de Lisboa.
O edifício, cuja construção vem de 1766, sofreu importantes modificações, para que Lisboa ficasse com uma Alfândega que estivesse de acôrdo com a importância do movimento do nosso primeiro pôrto.
O pavimento térreo do edifício, dividido por uma espécie de naves de arcos abatidos, foi aproveitado para a sala de despachantes, Museu Técnico, depósito de impressos, laboratório de ensaio do Ministério das Obras Públicas e para o destacamento marítimo da Guarda Fiscal...Na decoração e embelezamento das dependências da nova Alfândega, procurou-se aliar ao confôrto necessário à eficiência do trabalho dos empregados, um pouco de modernismo que acompanhe de perto o que no estrangeiro se tem feito nêste capitulo."
in Da Estremadura : boletim da Junta de Província da Estremadura, 1940

Edifício da Alfândega, fachada para a antiga rua

Edifício da Alfândega, fachada para a antiga rua João Evangelista (actual Av. Infante D. Henrique), ant 1932, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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Planta Topográfica de Lisboa 12 F

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Alfândega Velha, 1949, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

Mercado Central de Produtos Agrícolas, actual edi

  Mercado Central de Produtos Agrícolas, actual edifício da Alfândega, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

As Modistas de Lisboa

"As modistas, as Cassandras da Moda, abundaram na Lisboa do século XIX...houve duas modistas que se celebrizaram na <<struggle-forlifice>> das elegâncias: Madame Duprat e Madame Burnay.
A Duprat (Maria Ana Duprat) casou com Sebastião Duprat, proprietário de um armazém de modas no 1º andar, tornejando do Rossio para a rua da Betesga. Mudou-se daqui para um 1º andar no largo do Pelourinho, ficando a comerciar sob o nome social de <<Martin Frères, Casa de Fazendas de França>>. Em 1831, a Duprat estava num 1º andar da rua da Prata e liquidou o armazém de modas em 1845, depois das suas confecções haverem ateado um vasto incêndio de admiração. Seu marido, Sebastião Duprat, manufacturava as toilettes da Princesa D. Carlota Joaquina, que após a saída da côrte para o Brasil, se vestiu do atelier de Madame Joséphine, estabelecida na rua Ouvidor...O prédio da Rua do Alecrim, moderno, próximo ao Arco Pequeno, em que Madame Burnay (Maria Ana Burnay) instalou a sua usina dos adornos feminis, pertencia aos herdeiros de Francisco Mendes Dias, o Manteigueiro, um dispéptico intelectual, ávaro como um proconsul. A exemplar modista inaugurou a sua indústria, no momento histórico em que os pulmões de Portugal se dilatavam, ao receber-se a notícia da queda de Napoleão e do regresso das nossas tropas...Madame Burnay passou a intitular-se <<Modista de Sua Majestade Fidelíssima>> em 1835. Depois da implantação do constitucionalismo, foi ela a primeira que confeccionou vestuário para D. Maria II, fornecendo-lhe desde o chapéu ornado de marabús trementes até ao chale cândido como o peplo das Panatheneias. Não se limitando a vender às damas os vestidos variegados, os chapéus de cartão Bristol, os barretes à Grey, as grinaldas de flôres de penas, os espartilhos à dos métalliques, os regalos de chinchilla, as ligas de molas e as calcinhas de cassa, também lhes vendia as luvas de anta, as aves do Paríso, os saquinhos de ferro de Berlim, os perfumes de Dulac, os potes de cerôtos de Chardin, os óculos de duas vistas, as caixas de música e os pianos Érard."
in Lisboa de Outrora, vol. II, de João Pinto de Carvalho (TINOP)

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Modelo de factura duma modista em 1826, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

Palácio de Alcântara

"Palacio de Alcantara. - Saindo as portas de Alcantara, a caminho de Belem, encontra-se logo á direita um edificio de tão modesta apparencia, que um estrangeiro que por ahi passe, não presume estar vendo um palacio, e menos ainda uma antiga habitação real.
Este edificio, pois, decorado com tão pomposo titulo, não se recommenda por elegancia, nem por grandeza, nem por especie alguma de ornato architectonico, nem finalmente por a mais ligeira feição que caracterise a epocha da sua fundação. Dá-lhe, porém, direito a ser mencionado n'este roteiro, o interesse historico de um acontecimento que n'elle se passou, o qual foi o preludio de mui importantes successos da história de Portugal.
O palacio de Alcantara, modernamente chamado do Calvario, por estar situado em frente do convento e largo do mesmo nome, era outr'ora propriedade particular. Posto que nos escasseiem as noticias ácerca d'esse primeiro periodo da sua história, cremos com algum fundamento que veio para a coroa por sequestro no governo intruso dos Filippes de Castella...Foi na terminação d'esta regencia (rainha D. Luiza de Gusmão, viuva del rei D. João IV, na menoridade de seu filho D. Affonso VI), que o palacio de Alcantara adquiriu celebridade.
É geralmente sabido, que D. Affonso VI tirou violentamente as redeas do governo das mãos de sua mãe; mas o que nem todos sabem é que aquelle soberano tinha completado a sua maioridade, e que a regente, por conselho de ministros, e mais ainda por sugestão dos jesuítas, que temiam, não o moço rei, porém o conde de Castello-Melhor, seu valido, não só não estava resolvida a entregar o poder a D. Affonso VI, mas até meditava, e trabalhava com ella grande parte da corte, e todas as influencias jesuísticas, n'uma conspiração concertada para a deposição d'aquelle monarcha, sob pretexto de incapacidade para reinar,e para a exaltação ao throno de seu irmão, o infante D.Pedro.
Foi transformado este trama, nas vesperas do dia em que devia realisar-se, pelo Conde de Castello-Melhor, que persuadiu el-rei a apoderar-se repentinamente do governo do estado.
Combinado o plano contra-revolucionario por aquelle homem...saiu d. Affonso VI dos paços da Ribeira, onde residia coma familia real, no dia 21 de junho de 1662, e dirigiu-se para o palacio de Alcantara, sem que se percebesse o seu designio.
Apenas alli chegou, estando acompanhado do conde de Castello-Melhor, fez expedir cartas a toda a nobreza, tribunaes, prelados, etc., convocando-os alli para lhe assistirem no acto de tomar posse do governo do reino.
Não se realisou este acto no palacio de Alcantara, porque desconcertados os planos dos ministros da regente, por aquella imprevista e energica resolução d'el-rei, veio a rainha D. Luiza a um acordo, em virtudedo qual entregou os sêllos do estado a seu filho, D. Affonso VI, no dia 23 do mesmo mez, celebrando-se a ceremonia nos paços da Ribeira com a solemnidade usada em taes casos...No dia 2 de abril de 1668 celebrou-se na capella do palacio de Alcantara o consorcio do principe d.Pedro, então regente pela deposição de D.Affonso VI, seu irmão, com a rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboya, que tendo casado no anno antecedente com este desditoso monarcha, se achava então desprendida dos primeiros laços conjigaes por sentença dos tribunaes do reino, e por bulla pontificia.
O palacio de Alcantara foi a casa de campo predilecta de D. Pedro, em quanto regente e depois de rei. N'elle residiu por varias vezes, até que indo alli convalescer de grave doença, ahi falleceu em 9 de dezembro de 1706.
Coincidencia bem notavel! D Affonso VI entrou no poder por este palacio, no qual seu irmão D. Pedro, que lhe roubara a liberdade, apossando-se-lhe do throno e da esposa, veio por fim, já duas vezes viuvo, deixar o poder e a vida!
Em 1693 serviu por algum tempo de residencia á rainha de Inglaterra, viuva, D. Gatharina de Bragança.
O terremoto de 1755 arruinou muito este palacio. Depois foi reedificado, e mais tarde dado a Francisco José Dias, com o fim e condição expressa de estabelecer n'elle uma fabrica de chitas. Como não fosse cumprida esta clausula, voltou para a coroa aquella propriedade no anno de 1808.
Reinando a sra. D. Maria II, de saudosa memoria, fizeram-se n'este palacio consideraveis obras de reedificação e augmento, mas sem se attender a especie alguma de beleza de architectura. Desde então tem servido de aposento, por munificencia regia, a algumas fidalgas vivas, e a varios servidores da casa real.
A quinta consta de um jardim, para onde deita uma frente do palacio anterior ao terremoto de 1755, de pomares, e de um horta ajardinada com um grande tanque, etc. De certos sitios d'esta quinta goza-se uma linda perspectiva da cidade, do Tejo, e das povoações e montanhas da margem d'além."
in Archivo pittoresco : semanario illustrado

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Planta da real quinta do Calvário, Lisboa, 1847, in http://purl.pt/3366

Bica dos Olhos

"A bica chamada dos «Olhos», é uma das mais curiosas antiguidades de Lisboa, tanto pela virtude que á sua agua attribue a gente do povo, como por estar vinculada ao predio onde se conserva, com a obrigação de a ter o senhorio sempre corrente e pública.
Do archivo da camara municipal de Lisboa consta, que um carpinteiro chamado Antonio Ferreira, comprara por 1:750$000 réis, uma propriedade de casas ás portas do Pó, hoje rua da Boa Vista, a qual tinha a serventia principal pela Calçada Corrêa de Sá. Distante quatro palmos d'esta propriedade havia um chão pertencente á cidade, onde estava a bica chamada do <<Artibello>>, contracção de Duarte Bello, que deu o nome, que ainda se conserva, á rua que vae do largo do Calhariz para a Boa Vista.
O referido carpinteiro requereu ao senado lhe aforasse aquelle chão para n'elle edificar em continuação do predio que já possuia. O senado consultou a favor, pelo que se lavrou escriptura de aforamento d'aquelle chão aos 29 dias do mez de julho de 1709, imponde-se-lhe o foro annual de 2$000 réis, e laudemio de quarentena. N'esta escriptura, além das clausulas costumadas, se lê a seguinte:
«E com mais condição, que elle dito Antonio Ferreira será obrigado a mudar a fonte á sua custa, chegal-a á aresta conteúda no cordeamento, como tambem elle e seus herdeiros a reparal-a de todos os desmanchos e concertos dos canos d'ella, e dos que carecer a mesma fonte em qualquer tempo que seja, sem da fazenda da cidade se concorrer para as despezas com coisa alguma.»
A bica passou então para junto do cunhal da nova propriedade, que faz esquina para o beco do conde de Sampaio, e está mettida no vão de uma larga porta, com ombreiras e verga de pedra. O fundo d'este vão é todo de cantaria, figurando um tosco prospecto de fonte, com sua cimalha e frontão, no centro do qual está esculpida a era de 1675. A meio d'este prospecto fica o navio das armas de Lisboa, em alto relêvo, de cujo costado sáe a bica, que tem hoje por baixo um pequeno tanque, em fôrma de concha, feito ha pouco tempo, porque d'antes o tanque era quadrado, e chegava quasi á face das ombreiras da porta.
Por baixo da cimalha tem o seguinte padrão gravado na cantaria:
HE OBRIGADO O DONO DESTA PROPRIEDADE A CONSERVAR
ESTA BICA SEMPRE CORÊNTE À SUA CUSTA.
O chamar-se-lhe bica dos «Olhos» provém do seguinte caso, que a tradição tem conservado até hoje. Um francez que descobriu na agua d'esta bica grandes virtudes para inflammação de olhos, começou a vendel-a em vidrinhos com um nome pomposo, e provindo de origem supposta. Com effeito esta agua fez immensas curas, diz-se, e o industrioso estrangeiro ganhou muito dinheiro. Por fim o criado que ia de noite buscar a agua á bica de Duarte Bello, que o amo vendia como especifico, revelou o segredo, pelo que o francez teve de fugir, divulgando-se a virtude que tinha a agua d'aquella bica, concorrendo alli desde então muitos doentes a lavar os olhos, e a ser tirada em garrafas para o mesmo uso."
in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 5.º Ano, n.º 33

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Chafariz da Bica dos Olhos, 1951, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº 50, de Filipe Folque, in A.M.L.

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 in Memoria sobre chafarizes, bicas, fontes, e poços públicos de Lisboa, Belem e muitos logares do termo

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 Chafariz da Bica dos Olhos, 1951, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.

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Chafariz da Bica dos Olhos, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.

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Bica dos Olhos, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

Adicionada em 20 - 3 - 2017, 21:10 H

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