Escola Politécnica de Lisboa
"No dia 22 de abril de 1843, um pavoroso incendio reduziu a cinzas o interior do edificio que a estampa desenha fielmente.
Tinha elle sido fundado em 1603 para casa de noviciado dos Jesuitas em Lisboa, mas só se concluiu no anno de 1619.
Abolida a companhia por decreto de 13 de setembro de 1759, o marquez de Pombal destinou os edificios e bens d'esta opulenta ordem para differentes estabelecimentos publicos.
Como o noviciado da Cotovia tinha uma pingue dotação, uma casa vasta e bem situada, com o onus das missões imposto na herança do almirante de Castella, não lhe tocou o marquez para evitar reclamações, o que conseguiu estabelecendo alli um collegio para educação dos filhos dos nobres, com certo numero de capellães obrigados a irem servir nas egrejas do Oriente.
A carta de lei da fundação do <<Collegio dos Nobres>>, tem a data de 7 de março de 1761; e o preambulo do Marquez de Pombal.
Havendo respeito ao referido, e desejando, quanto em mim é, restituir aos meus fieis e amados vassallos, as irreparaveis perdas que mais de dois seculos tiveram na falta d'aquelles uteis e fructuosos estudos, que antes haviam florescido com tanto credito da naçao, e com tanto augmento da egreja e utilidade publica do reino: Hei por bem estabelecer na mesma corte e cidade de Lisboa, um collegio com o titulo de <<Collegio real dos Nobres>>, para n'elle se educarem 100 porcionistas, etc.
A este preambulo seguem-se os estatutos, divididos em 15 titulos.
N'elles se designam as disciplinas que se haviam de ensinar n'este collegio; a saber: Latim, grego, francez, inglez, italiano, rhetorica, poetica, logica, historia, mathematica, desenho, architectura militar e civil, physica, picaria, esgrima e dança.
Nenhum collegial podia ser admittido sem primeiro se qualificar com foro de moço fidalgo, pelo menos.
A porção ou pensão annual era de 120$000 réis, paga aos semestres.
Deviam usar de igualdade nos vestidos. Em casa a roupa talar chamada garnacha; e quando saissem fôra, os primogenitos usariam de casaca de panno ou qualquer outro estofo que não fosse seda; e os filhos segundos usariam de vestidos chamados de abbatina, talares, ou de capa curta confôrme as occasiões.
Tal qual porém, subsistiu até 1834, em que por um decreto do regente, o duque de Bragança, se ordenou que passassem a ser admittidos tambem collegiaes plebeus; e que as aulas até então reservadas para os alumnos internos, se fizessem publicas, para as frequentar quem quizesse.
Um decreto referendado por Manuel da Silva Passos, em 4 de janeiro de 1837 supprimiu o Collegio dos Nobres; e por outro decreto de 12 do dito mez foi doado o edificio e bens d'este instituto á Eschola Polytechnica, creada por decreto do dia antecedente.
Desde logo se estabeleceram as aulas da nova eschola n'este edificio, e ahi se conservaram até ao dia 22 de abril de 1843, em que um grande incendio unicamente deixou em pé as paredes de tão vasto e solido edificio.
O conselho da eschola tratou logo de construir um edificio proprio para o seu destino.
O risco foi feito pelo antigo director da eschola, o sr. general J. F. da Silva, de accôrdo com o professor de desenho D. Luiz Muriel, que dirigiu as obras por algum tempo. Depois tomou conta d'ellas o sr. Pézarat, também professor de desenho d'esta eschola.
Para estas obras contraiu a Eschola Polythecnica um emprestimo de 100 contos de réis, auctorizado pela carta de lei de 1 de julho de 1857; além dos que já tinha gasto dos réditos da sua dotação. Tendo-se gasto esta somma, levantou já este anno outro emprestimo de 90 contos, com os quaes se julga ficará concluido este grande estabelecimento, comprehendendo o jardim botanico, que se ha de fazer na cerca."
in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 6.º Ano, nº 31 e nº34, de 1863
Antigo noviciado dos Jesuítas, in Archivo pittoresco, nº 31
Escola Politécnica de Lisboa, in Archivo pittoresco, nº 34
Levantamento topográfico de Francisco e César Goullard, Nº 35, in A.M.L.
Planta da cerca real do Colégio dos Nobres, foto Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.
Escola Politécnica de Lisboa, foto de Augusto Bobone, in a.f. C.M.L.
Escola Politécnica de Lisboa, foto de João Brito Geraldes, in a.f. C.M.L.