"Agua vae"
"Desde a libertação dos escravos, e mesmo desde alguns annos antes, tornaram-se em Lisboa as ruas perfeitos tremedaes; falta-me o termo proprio, e ainda bem! Lisboa, a cidade das sete collinas, a formosa rainha do Tejo, a senhora do mar Oceano (e outros titulos), ficou recoberta de um tapete infamissimo, que não rescendia certamente a essencia <<bouquet>>, nem a <<jockey-club>>. Nós mesmos ainda na nossa mocidade assistimos a esse escandalo do bom gosto e do olfato, a esse alardo miserando da incuria nacional.
Então suspirou-se pelos passados tempos, pelas pretas, e pelos carretões!
As posturas das camaras (isto é que tem graça) pactuaram com o uso, e obrigaram a população a apurar a voz n'um falsete adoravel, dizendo <<Agua vae!>> cada vez que havia diluvio parcial de alguma janella. O <<agua vae>> entrou na linguagem, e nos costumes; tornou-se necessario; de mais, era o conselho paternal em nome do aceio, e á falta de chapeos de chuva adequados á situação."
"Lisboa Antiga" de Júlio Castilho
Henry L'Evêque, Costume of Portugal, 1814
Edital do Senado - Que ninguem lance agoas na Rua sem as tres vozes