Penitenciária de Lisboa
"O aspecto exterior da cadeia como que aligeira e disfarça a ideia de castigo que a gerou. Apercebida de Valle Pereiro, entre dois morrositos verdes - p'ra lá do muro da estrada da circumvalação - todo o edifício se estende entre paredes ameadas, e simulacros de guaritas de revelins, pintadas de chocolate e avivadas a branco. Com seu ar de quinta de brazileiro, quando o sol a envolve , ninguem, desprevenido, irá dizer que agonisam ali 500 cerebros.
Perto, o aspecto entra de se carregar um pouco, mercê das grades que lhe protegem as janellas baixas.
Vem-lhe portanto a solemnidade das grades e da guarda, sem comtudo ainda nada resumar da caraça de phantasia da fachada.
Atravessada a aboboda de entrada e o pateo interior, um corredor se segue, ladeado por aberturas de cellas, todo caiado, e fazendo contrastar a brancura faiscante que lhe erradia das paredes com o fundo negro e tenebroso onde para um preso recemvindo e labroste, deve existir o mysterio do seu castigo, e onde entra de suppôr martyrios tetricos: o corpo na bainha d'uma cella, mezes a fio sem luz e sem ter leito, agua pela cinta na ongura das noites frias, o remorso com garras, cantochões, a doidice, a morte!
É o primeiro passo do condemnado esse corredor, assim que sahe do carro cellular. Entrado n'um dos compartimentos lateraes, rapa-se-lhe o craneo e a face, e sem cabello e barba, entre guardas, fecha-se sobre elle a porta do fundo, que só lhe tornará a abrir annos depois, quando a prisão tiver sortido os seus moraes effeitos, prisão ao que parece arbitrada para sua regeneração, mas arbitrada d'accordo com o episodio que lhe motivou o sequestro.
Na rouparia recebe então o preso o enxoval: sua roupa de cama, o fato, e o capuz com que ha-de sempre que saia da cella esconder o feitio á cabeça.
Segue-se um banho e é finalmente o criminoso internado na cella respectiva, já vestido com o seu fato de penitenciario, o numero bem evidente ao peito, a cara bem escondida sob o capuz.
O homem a regenerar passa a ser um numero, o cerebro a fazer evolucionar passa a econder-se."
in Branco e Negro : semanário ilustrado, N.º 49 (7 Mar.) de 1897
Penitenciária de Lisboa, 1913, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Planta Topográfica de Lisboa 9 J, 1909, de Alberto de Sá Correia, in A.M.L.
Construção da Penitenciária de Lisboa, ant. a 1888, foto de Francesco Rocchini, in a.f. C.M.L.
Construção da Penitenciária de Lisboa, ant. a 1888, foto de Francesco Rocchini, in a.f. C.M.L.
Construção da Penitenciária de Lisboa, ant. a 1888, foto de Francesco Rocchini, in a.f. C.M.L.
Presidiários na penitenciária de Lisboa, antes da abolição do capuz em 1913, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Prisioneiro na penitênciária de Lisboa, antes da abolição dos capuzes, ant. 1913, foto de António Novaes, in a.f. C.M.L.
Penitenciária de Lisboa, o Hospital Prisão e os passeios, sem data, coleção negativos e provas, in a.f. C.M.L.
Penitenciária de Lisboa, uma ala, sem data, coleção negativos e provas, in a.f. C.M.L.
Panorâmica, vendo-se a Penitenciária, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Adicionadas às 21:25 Horas, do dia 06-02-2017
Penitenciária de Lisboa, s/d, foto de Leilão Soares e Mendonça, in a.f. C.M.L.
Penitenciária de Lisboa, s/d, foto de Leilão Soares e Mendonça, in a.f. C.M.L.