Há bem pouco tempo, estavam estas fotografias arquivadas no Fundo Antigo do Arquivo Municipal de Lisboa, desconhecendo-se os seus autores. Com a recente descoberta dos seus autores, fica a história mais composta; como sói dizer-se - o seu a seu dono. Publiquei um outro dia, a propósito do Palácio dos Condes de São Miguel, uma dessas imagens, a que hoje associo outra. Na imagem correspondente à Fábrica de Cerveja Peninsular, pode ler-se no seu cunhal, o nome da artéria, que neste caso é o Caminho do Forno do Tijolo. Um pouco mais à direita, junto à carroça estacionada, e ao frade de pedra, uma outra referência toponímica indica-nos o início do Regueirão dos Anjos, local onde se situava a Escola Estephania, como se pode ver pela outra imagem dos mesmos autores, que incluo neste artigo. Sobre esta Escola, o que se pode dizer, é o que consta de um anúncio de 1908, publicado no "Almanak de O Mundo", que diz estar esta Escola instalada no Palacete Villa Braz Fernandes, Rua de Arroios, 48, e era propriedade de Agostinho José Fortes. Contudo, em anúncio da mesma publicação, no ano seguinte, 1909, já aparece a referida Escola com a morada de - Avenida Dona Amelia, A.N.
Fábrica de Cerveja Peninsular, 1898 1908, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Escola Estephania, 1898 1908, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Planta Topográfica de Lisboa, 11 J, 1910, de Alberto de Sá Correia, in A.M.L.. A vermelho a Fábrica, e a Amarelo a Escola
Na "Revista pittoresca e descriptiva de Portugal com vistas photographicas", de Joaquim Possidonio Narcizo da Silva, a vista photografica da Torre de S. Vicente de Belem, e que aqui reproduzo, vem acompanhada com um texto do qual saliento este pequeno excerto: "...no primeiro plano vêem-se os destroços da famigerada linha ferrea, que da deliciosa Cintra havia de fazer um bairro de Lisboa; apenas alguns tôros já damnificados pela acção do tempo, apenas uma estreita lingueta de terra, são os unicos vestigios de tão brilhante empreza, a qual foi começada sob tão lisonjeiros auspicios, mas infelizmente o cruel destino a fez morrer no seu dourado berço." Temos que recuar até ao ano de 1854, mais precisamente a 30 de Setembro, para sabermos mais sobre esta «empreza»: "Dom Fernando, Rei Regente dos Reinos de Portugal, Algarves, etc., em Nome d'El-Rei, Fazemos saber a todos os subditos de Sua Magestade, que as Côrtes Geraes decretaram, e Nós Queremos a Lei seguinte: É approvado, na parte que depende da sanção legislativa, o contrato celebrado aos 30 de Setembro de 1854, entre o Governo e De Claranges Lucotte, para a construcção de um caminho de ferro de Lisboa a Cintra, o qual contrato vae junto á presente Lei, e d'ella faz parte." Este contrato, que envolvia a construção de um cais, e uma doca, para além do referido caminho de ferro, foi celebrado e assinado em 26 de Julho de 1855, por Fontes Pereira de Melo, então Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, sendo ainda interinamente, encarregado do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Industria. Como se viu, em 1962, data da photografia, estava a obra interrompida. Em 1963, surgia novo contrato: "Aos 30 dias do mez de maio de 1863, n'este ministerio das obras publicas, commercio e industria, e gabinete do ill.mo e ex.mo sr. duque de Loulé, presidente do conselho de ministros, ministro e secretario d'estado dos negocios estrangeiros, e interinamente encarregado do ministerio das obras publicas, commercio e industria, onde compareci eu Ernesto de Faria, do conselho de Sua Magestade, secretario d'este ministerio, estando presentes de uma parte o mesmo ex.mo sr. ministro, primeiro outorgante em nome do governo, e da outra parte o cidadão francez Hubert Debrousse, assistindo a este acto o bacharel Antonio Cardoso Avelino, ajudante do procurador geral da corôa junto ao mesmo ministerio, foi dito perante mim e testemunhas abaixo nomeadas, pelos mencionados outorgantes que haviam concordado em celebrar um contrato para a concessão dos terrenos já conquistados e a conquistar sobre o Tejo na margem direita d'este rio, para o estabelecimento de docas e de um dique de querenar, bem como para um caminho de ferro de Lisboa a Cintra, na conformidade das condições e clausulas abaixo transcriptas, a cuja execução e cumprimento se obrigaram, o primeiro outorgante em nome do governo, e o segundo em seu proprio nome." Bibliografia consultada:
"Revista pittoresca e descriptiva de Portugal com vistas photographicas", de Joaquim Possidonio Narcizo da Silva
"Collecção Official da Legislação Portugueza", Anno de 1855
"Collecção Official da Legislação Portugueza", Anno de 1863