"O Chiado é a montra de Lisboa, o aquario da cidade. A aglomeração de transeuntes, já torna dificil o transito em certas horas do dia. Mas além dos transeuntes, ha os que estacionam, os que não fazem nada, os que se encostam horas esquecidas á porta dos cafés e tabacarias - a vêr quem passa. Muitos não se limitam a vêr; metem-se com as mulheres, dirigem-lhes graçolas de mau gosto, praticam a grosseria mais descabelada e mais estupida, convencidos de que fazem espirito. O aquario começa na porta da Havaneza...segue-se a porta da Brasileira. Artistas, literatos e jornalistas. Uma mulher passa. Salta um «piropo». Algumas não gostam. Vem depois a Bénard, a porta do Hotel Borges, a Marques. Mocinhos elegantes, meninos Citroën, filhos-familia sem emprego e outros espécimes curiosos da fauna lisboeta enchem o passeio, impedindo o transito, prejudicando o comercio. Por fim, é o café Chiado. Os mesmos tipos. As mesmas scenas. Do outro lado, é a porta da livraria Bertrand, é a Estrela Polar, é o Tauromaquico. Em resumo: é um espectaculo que não se vê em nenhuma cidade do mundo, em nenhuma cidade civilisada. Lisboa já não é um burgo provinciano, onde o cura, o medico e o juiz discutem politica á porta da farmacia. É uma cidade de trabalho, de movimento, de agitação. As ruas são para transitar, não para estacionar. Assim o entendeu o comandante da Policia - e muito bem. Desde ontem que os ociosos do Chiado começaram a andar numa polvorosa. A policia encarregou-se deles; reeditou o velho «refrain»: - «É proibido andar parado». E tudo circula, minha gente. Pela direita! Seguir pela direita! Adopta a divisa do Grandela: "Sempre por bom caminho e segue". Artigo publicado no "Diário de Lisboa", de 11 de Junho de 1928, com o titulo: "Os Lisboetas ociosos no Chiado".
Polícia sinaleiro, na Rua Garrett, Maio de 1928, foto de Ferreira da Cunha, in a,f. C.M.L.
Casa Havaneza, 1913, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
A Brasileira, o Hotel Borges, e a Pastelaria Benard, 1966, foto de Casa Fotográfica Garcia Nunes, in a.f. C.M.L.
Café A Brasileira do Chiado, 1966, foto de Casa Fotográfica Garcia Nunes, in a.f. C.M.L.
Pastelaria Marques, s/d, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Café Chiado, 1939, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Tabacaria Estrela Polar, s/d, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
O arco do Carvalhão. Eram estes terrenos pertença de Sebastião José de Carvalho e Melo, ainda antes de ele vir a ser Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, e estendiam-se até à actual Rua Marquês de Fronteira. O «Carvalhão» era pois o futuro Marquês de Pombal, e do apelido derivaram os nomes, do Arco do Carvalhão, da Rua do Arco do Carvalhão (que se designava anteriormente Rua do Sargento-Mór), e da Rua do Alto do Carvalhão.
Arco do Carvalhão, 1961, foto de Augusto de Jesus Fernandes, in a.f. C.M.L.
Arco do Carvalhão, visto do Viaduto Duarte Pacheco, 1947, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.
Arco do Carvalhão, visto da Rua do Alto do Carvalhão, 1945, foto de Estúdios Horácio Novais, in a.f. C.M.L.
"Ás 10 e 45 da manhã param dois automoveis num determinado ponto da estrada militar, junto á Ameixoeira. É o sr. dr. Affonso Costa que chega com as suas testemunhas e o seu medico. Logo aparecem os primeiros curiosos. Não tardam mais tres automoveis. São aquelles em que veem o adversario do sr. dr. Affonso Costa, as suas testemunhas e o seu medico. O numero de espectadores aumenta. Aparece mais um automovel com «reporters». Surgem igualmente trens com outros espectadores. Populares do sitio, estranhando o movimento, fazem pequenos grupos. Vêem-se tambem soldados da guarda fiscal. Não faltam mulheres. As testemunhas e o juiz de campo conferenciam. Naquella altura da estrada não ha sombra. As testemunhas vão estrada fóra, procurando sitio onde o sol não bata. Encontram-no a uns trezentos metros de distancia, e voltam a buscar os contendores. Os curiosos seguem tambem. No local, que uma orla de arvores sombreia, as testemunhas conferenciam de novo, e marcam logares. Todos vestem trajo de passeio. O sr. dr. Affonso Costa tem o mesmo fraque de passeio com que ante-hontem estava na camara. O sr. Penha Garcia veste de claro, com chapeu de palha. Desinfectam-se as espadas, e os dois adversarios preparam-se. Tiram colarinhos, gravatas,coletes e casacos. Em frente um do outro, as espadas estendidas tocam-se pelas pontas. Antonio Martins brada: Em guarda! O combate começa." É deste modo que surge no "Almanak de O Mundo", a descrição do início do duelo que envolveu o deputado, o dr. Afonso Costa, com o também deputado, sr. conde de Penha Garcia.
O duelo deveu-se a um desentendimento entre ambos, ocorrido na Câmara dos deputados. Após o discurso inflamado do líder do Partido Republicano (Afonso Costa), se ter insurgido contra a monarquia, a propósito da questão dos adiantamentos, o conde de Penha Garcia (primo de João Franco, presidente do conselho de ministros, com a pasta do reino), aproximou-se de Afonso Costa e disse-lhe «Quem assim desconsidera a honra alheia, não pode prezar a honra própria», obtendo como resposta um «Logo falaremos». O duelo terminaria, com o ferimento de Afonso Costa num braço.
Duelo entre o conde de Penha Garcia e Afonso Costa, 14-07-1908, Estrada da Ameixoeira, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Cena de duelo entre Penha Garcia e Afonso Costa, Afonso Costa preparando-se para o duelo, 14-07-1908, Estrada da Ameixoeira, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Início do duelo entre o conde de Penha Garcia e Afonso Costa, 14-07-1908, Estrada da Ameixoeira, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Duelo entre o conde de Penha Garcia e Afonso Costa, 14-07-1908, Estrada da Ameixoeira, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Duelo entre o conde de Penha Garcia e Afonso Costa, a testemunha Moreira Júnior examinando Afonso Costa, após o ferimento no braço, 14-07-1908, Estrada da Ameixoeira, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
As Cheias de 1945, em Lisboa: "se tivessem coincidido com a hora da maré cheia, as inundações teriam assumido proporções ainda muito mais graves", era desta forma que o "Diário de Lisboa", de 18 de Novembro de 1945, se referia à forte precipitação que desde as 04:30 Horas, e durante 5 Horas sem interrupção, se abateu sobre Lisboa. A zona de Alcântara, ao Poço do Bispo, foi a zona mais afectada da cidade, mas zonas como, a estrada de Benfica, o Campo Grande, Palhavã, as Avenidas Novas, a Baixa, foram igualmente muito afectadas.
De realçar a brilhante cobertura fotográfica de Judah Benoliel, que nos permite ter uma visão do que se passou.
Inundações, à esquerda a capela do Hospital Curry Cabral e, à direita, a Maternidade Abraão Bensaude, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações na Rua de S. Paulo, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Av. 24 de Julho, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Av. 24 de Julho, frente ao Boqueirão Duro, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, junto da estação do Cais do Sodré, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Terreiro do Paço, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Terreiro do Paço, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, rua Bernardino Costa, e a Rua do Arsenal, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Rossio, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Rossio, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Av. da República, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Inundações, Estrada de Benfica, 18-11-1945, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
"Ingressemos na chamada «Entrada do Passeio dos Arcos», êste pequeno eirado sumàriamente ajardinado, ao fundo do qual se encontra o portão de ferro que conduz à galeria alta do Aqueduto.
Aquela estátua mutilada, representando um guerreiro romano, segurando um escudo das quinas no braço esquerdo, é obra, segundo se crê, de Alexandre Guisti; parece guardar simbòlicamente a entrada dos Arcos...Alguns críticos estrangeiros consideram este Monumento, que o Terramoto nem sequer abalou, uma das construções mais arrojadas e belas do mundo, «igualando os maiores monumentos dos romanos». Este Passeio dos Arcos houve tempo em que foi público, para trânsito dos arredores até Campolide (Rato). Teve porém de ser fechado, após várias tentativas ante a resistência pública, em 12 de Agôsto de 1852. É que os suicídios contavam-se por centenas. Quanto aos famosos crimes de Diogo Alves neste Passeio dos Arcos têm mais de fantasia que de realidade; do processo de condenação nada consta." in "Peregrinações em Lisboa, Livro 11, pág.s 84 e 85, de Norberto de Araújo
Aqueduto das Águas Livres, post. 1912, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
O Guerreiro, estátua colocada na entrada do aqueduto das Águas Livres em Campolide, s/d, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Entrada do aqueduto das Águas Livres em Campolide, s/d, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Aqueduto das Águas Livres, entrada do Passeio dos Arcos, do lado da Serafina, s/d, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
O Passeio dos Arcos do Aqueduto das Águas Livres, encerrado por questões de segurança em 1852, c. 1912, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
Há bem pouco tempo, estavam estas fotografias arquivadas no Fundo Antigo do Arquivo Municipal de Lisboa, desconhecendo-se os seus autores. Com a recente descoberta dos seus autores, fica a história mais composta; como sói dizer-se - o seu a seu dono. Publiquei um outro dia, a propósito do Palácio dos Condes de São Miguel, uma dessas imagens, a que hoje associo outra. Na imagem correspondente à Fábrica de Cerveja Peninsular, pode ler-se no seu cunhal, o nome da artéria, que neste caso é o Caminho do Forno do Tijolo. Um pouco mais à direita, junto à carroça estacionada, e ao frade de pedra, uma outra referência toponímica indica-nos o início do Regueirão dos Anjos, local onde se situava a Escola Estephania, como se pode ver pela outra imagem dos mesmos autores, que incluo neste artigo. Sobre esta Escola, o que se pode dizer, é o que consta de um anúncio de 1908, publicado no "Almanak de O Mundo", que diz estar esta Escola instalada no Palacete Villa Braz Fernandes, Rua de Arroios, 48, e era propriedade de Agostinho José Fortes. Contudo, em anúncio da mesma publicação, no ano seguinte, 1909, já aparece a referida Escola com a morada de - Avenida Dona Amelia, A.N.
Fábrica de Cerveja Peninsular, 1898 1908, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Escola Estephania, 1898 1908, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Planta Topográfica de Lisboa, 11 J, 1910, de Alberto de Sá Correia, in A.M.L.. A vermelho a Fábrica, e a Amarelo a Escola
Na "Revista pittoresca e descriptiva de Portugal com vistas photographicas", de Joaquim Possidonio Narcizo da Silva, a vista photografica da Torre de S. Vicente de Belem, e que aqui reproduzo, vem acompanhada com um texto do qual saliento este pequeno excerto: "...no primeiro plano vêem-se os destroços da famigerada linha ferrea, que da deliciosa Cintra havia de fazer um bairro de Lisboa; apenas alguns tôros já damnificados pela acção do tempo, apenas uma estreita lingueta de terra, são os unicos vestigios de tão brilhante empreza, a qual foi começada sob tão lisonjeiros auspicios, mas infelizmente o cruel destino a fez morrer no seu dourado berço." Temos que recuar até ao ano de 1854, mais precisamente a 30 de Setembro, para sabermos mais sobre esta «empreza»: "Dom Fernando, Rei Regente dos Reinos de Portugal, Algarves, etc., em Nome d'El-Rei, Fazemos saber a todos os subditos de Sua Magestade, que as Côrtes Geraes decretaram, e Nós Queremos a Lei seguinte: É approvado, na parte que depende da sanção legislativa, o contrato celebrado aos 30 de Setembro de 1854, entre o Governo e De Claranges Lucotte, para a construcção de um caminho de ferro de Lisboa a Cintra, o qual contrato vae junto á presente Lei, e d'ella faz parte." Este contrato, que envolvia a construção de um cais, e uma doca, para além do referido caminho de ferro, foi celebrado e assinado em 26 de Julho de 1855, por Fontes Pereira de Melo, então Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, sendo ainda interinamente, encarregado do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Industria. Como se viu, em 1962, data da photografia, estava a obra interrompida. Em 1963, surgia novo contrato: "Aos 30 dias do mez de maio de 1863, n'este ministerio das obras publicas, commercio e industria, e gabinete do ill.mo e ex.mo sr. duque de Loulé, presidente do conselho de ministros, ministro e secretario d'estado dos negocios estrangeiros, e interinamente encarregado do ministerio das obras publicas, commercio e industria, onde compareci eu Ernesto de Faria, do conselho de Sua Magestade, secretario d'este ministerio, estando presentes de uma parte o mesmo ex.mo sr. ministro, primeiro outorgante em nome do governo, e da outra parte o cidadão francez Hubert Debrousse, assistindo a este acto o bacharel Antonio Cardoso Avelino, ajudante do procurador geral da corôa junto ao mesmo ministerio, foi dito perante mim e testemunhas abaixo nomeadas, pelos mencionados outorgantes que haviam concordado em celebrar um contrato para a concessão dos terrenos já conquistados e a conquistar sobre o Tejo na margem direita d'este rio, para o estabelecimento de docas e de um dique de querenar, bem como para um caminho de ferro de Lisboa a Cintra, na conformidade das condições e clausulas abaixo transcriptas, a cuja execução e cumprimento se obrigaram, o primeiro outorgante em nome do governo, e o segundo em seu proprio nome." Bibliografia consultada:
"Revista pittoresca e descriptiva de Portugal com vistas photographicas", de Joaquim Possidonio Narcizo da Silva
"Collecção Official da Legislação Portugueza", Anno de 1855
"Collecção Official da Legislação Portugueza", Anno de 1863