"Êste prédio alto que olha o Largo, entre a Rua da Madalena e a Travessa do Almada encostado pelo posterior à Travessa das Pedras Negras, foi construído, num aspecto que não diverge muito do actual em 1749, por João Manuel de Almada e Melo, visconde de Vila Nova de Sotto de El-Rei, tenente general, paroquiano, que no sítio das Pedras Negras outras mais casas edificou...Na parede do edifício Almada desta Travessa estão embebidas quatro lápides e pedras romanas, que podes ler e ver sem dificuldade. Foram encontradas soterradas neste local em 1749, quando o tal João de Almada e Melo ordenou aberturas de novos caboucos para erguer sua propriedade. Êste sítio foi fértil em achados arqueológicos, do tempo da dominação romana. Mas falemos por agora apenas dêstes. O maior corresponde, na legenda latina, a uma dedicatória de Lisboa a um pretor. Pode traduzir-se dêste modo: «Felicitas Julia, Olisipo, dedica a Lúcio Cecílio, filho de Lúcio Celeri, recto questor da província da Bética, tribuno do povo e pretor». Esta primeira lápide, no começo da Travessa, está incompleta; é na melhor das interpretações, uma dedicatória de certo Caio Júlio a Mercúrio e a César Augusto. A lápide a seguir, sôbre uma pequena coluna, diz justamente, no seu latim, que «Tito Licínio Amarântio por voto dedicou à mãi dos deuses». Esta outra da extremidade, mais decorativa, tem a legenda completa. Interpreta-se desta forma: Tito Licínio Cerno, natural de Lychaonia, dedicou à mãi dos deuses, a grande Ida da Frígia, sendo nobres duúnviros Cássio e Cassiano, e cônsules nobilíssimos Marco Atílio e Afroniano, e sendo governador Gaio." in "Peregrinações em Lisboa", Livro 2, pág. 16 e 20, de Norberto de Araújo
Prédio Almada com lápides romanas, s/d, foto de José Arthur Leitâo Bárcia, in a.f. C.M.L.
Prédio Almada, 1901, foto de Machado & Souza, in a.f. C,M.L.
Prédio Almada, e travessa do Almada, 1907, foto de Machado & Souza, in a.f. C,M.L.
Lápide romana, «Felicitas Julia, Olisipo, dedica a Lúcio Cecílio, filho de Lúcio Celeri, recto questor da província da Bética, tribuno do povo e pretor», 1944, foto de Estúdios Mário Novais, in a.f. C.M.L.
Lápide romana, «dedicatória de certo Caio Júlio a Mercúrio e a César Augusto», 1944, foto de Estúdios Mário Novais, in a.f. C.M.L.
Lápide romana, «Tito Licínio Amarântio por voto dedicou à mãi dos deuses», 1944, foto de Estúdios Mário Novais, in a.f. C.M.L.
Lápide romana, «Tito Licínio Cerno, natural de Lychaonia, dedicou à mãi dos deuses, a grande Ida da Frígia, sendo nobres duúnviros Cássio e Cassiano, e cônsules nobilíssimos Marco Atílio e Afroniano, e sendo governador Gaio», 1944, foto de Estúdios Mário Novais, in a.f. C.M.L.
A leitura deixou de fazer parte dos hábitos dos portugueses, é uma coisa que já se sabia. Agora com a "Internet", pior. Vêem-se as imagens, lê-se as legendas de través, e os textos? bem os textos, dão muito trabalho, e eu quero é ver bonecos. Vem este intróito, a propósito da Estátua de D.Pedro IV, instalada na Praça do mesmo nome, mas a que o povo continua a apelidar de Rossio. Ora esta estátua continua a ser alvo da frase "que não é D. Pedro, mas sim, Maximiliano, do México", que a estátua representa. Bastava ler um bocadinho mais e não acreditar em tudo o que circula por aí, para podermos chegar à verdade dos factos sobre a Estátua de D.Pedro IV. Socorramo-nos de Júlio de Castilho, e da sua obra: "Lisboa Antiga, Bairros Orientais", Vol. X., para elucidar certos factos que se prendem com a história da Estátua. - Em 17 de Julho de 1852 a Rainha D. Maria II foi em grande estado lançar a pedra fundamental do monumento do Imperador no Rossio. - O monumento, de caricata memória, era alcunhado de «galheteiro» (já por aqui fiz referência ao facto, em o "Galheteiro do Rossio") pelo público, não chegando a concluir-se. - Nas festas do casamento de D. Pedro V foi ele aproveitado para receber uma coluna que era terminada pela estátua do «hyrmeneu». Pareceu a muitos que seria esta forma de monumento a mais adequada à disposição e dimensões da praça, e daí nasceu a ideia de um terceiro monumento que é o que está lá.
- Com o ano de 1864 raiou para o monumento do imperador uma era nova. Tinham falecido alguns membros da comissão de 1852; outros achavam-se ausentes, outros haviam-se exonerado do cargo, a comissão podia considerar-se de facto dissolvida. - Em 25 de Fevereiro de 1864 ordenou-se a destruição do «galheteiro»; e logo em 30 de Março saiu o programa para um largo concurso internacional do monumento novo. Apareceram à chamada oitenta e sete projectos: de Itália, da Rússia, de França, de Inglaterra, da Holanda e da Bélgica, fora vários de Portugal. Foi escolhido o projecto dos artistas franceses Elias Robert, escultor, e Jean Antoine Gabriel Davioud, arquitecto. - Em 29 de Abril de 1867 lançava-se a primeira pedra; e em 29 de Abril de 1870, celebrava-se com grande pompa, na presença de toda a Lisboa, a inauguração do grande monumento, cujos autores eram estrangeiros, sim, mas cujo pensamento era nosso, e cuja execução fora entregue ao hábil canteiro português Germano José de Sales, sendo as quatro figuras dos cantos, a saber: a Força, a Moderação, a Justiça e a Prudência, esculpidas pelos artistas portugueses Fortunato e Punhe, além dos estrangeiros Coslande e Colard. Concluindo o autor revela um pormenor desconhecido de muitos: Quando se abriu o concurso internacional para a realização do monumento, foi necessário mandar para os concorrentes estrangeiros fotografias do rosto de D. Pedro IV. Encarregou-se do desenho que havia de fotografar-se, Miguel Lupi, que executou a carvão dois retratos do imperador, servindo-se de várias litografias e quadros a óleo contemporâneos, que foram emprestados pela augusta viúva. Depois de concluídos os carvões, foram levados à imperatriz, que escolheu dentre os dois o que melhor lhe pareceu. Desses carvões, foram então tiradas fotografias, e mandadas aos concorrentes. E com estes dados se conta a história, da estátua de D. Pedro IV.
Praça e Estátua de Dom Pedro IV, post. 1880, foto de Legado Seixas, in a.f. C.M.L.
Rossio, com o "Galheteiro" 1862, foto de Wenceslau Cifka. Coll. Lisboa Desaparecida, vol. 7
in "Lisboa Antiga, Bairros Orientais", Vol X
Construção da estátua de D. Pedro IV, 1869, fotógrafo n/i, in Bibliothèque Nationale de France
Construção da estátua de D. Pedro IV, 1870, foto de Francisco Rocchini, in Bibliothèque Nationale de France
Inauguração da estátua de Dom Pedro IV, 1870, foto de Legado Seixas, in a.f. C.M.L.
Inauguração da Estátua de Dom Pedro IV, fotografia de Francisco Rocchini, fotografada por José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Estátua de Dom Pedro IV, s/d, foto de José Chaves Cruz, in a.f. C.M.L.