"A' ilharga da igreja de S. Roque encontra-se localisada uma instituição que o lisboeta conhece muito bem: a Santa Casa da Misericórdia. Conhece-a desde o tempo em que a roda dos expostos era um sorvedouro de creanças illegitimas. Conhece a ainda pelos subsídios ás amas de leite, pelos dotes ás noivas pobres, pela protecção ás orphãs e aos velho', pela sopa económica aos indigentes, e, mais que tudo, por outra roda que também é um sorvedouro, não de creanças, mas de illusões e economias. Refiro-me á loteria portugueza, a que o lisboeta, na esperança de ter alguns dias menos atormentados de miséria, vai entregar os seus magros cobres para comprar uma cautela, que por sahir constantemente branca lhe torna ainda a vida mais negra." in "Portugal Pittoresco e Illustrado", A Extremadura Portugueza, Parte II, de Alberto Pimentel
Sala de extracção da lotaria na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, s/d, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Uma imagem vale mais do que mil palavras? Neste caso seguramente! Observando esta foto constatamos que: Do lado esquerdo da imagem se encontra o "Central Cinema", que apresentava o filme "O Hotel do Amor", com Anny Ondra, em cartaz pela 2ª semana; ao centro podemos apreciar o alpendre do Elevador da Glória; já do lado direito podemos observar o "Café Palladium". Então mas porque é que uma imagem vale mais do que mil palavras? Fácil, se ficasse por aquilo que Norberto de Araújo, nos diz em Peregrinações em Lisboa, Livro 14, pág. 21, ficaria convencido que o Central Cinema "Ardeu na madrugada de 29 de Janeiro de 1929, e nunca mais reabriu" (o que de facto ardeu nesta data foi o Salão Foz). Referindo-se ao alpendre do Elevador da Glória, diz-nos que a sua existência decorreu entre 1927 e 1937, mas diz-nos também o autor na mesma obra: "existe desde 17 de Novembro de 1932 o Café «Palladium»" (a data de abertura do Palladium é de 17 de Dezembro de 1932). A data da foto mais uma vez não está correcta no A.M.L., está datada de 1931, quando o Café Palladium só foi inaugurado em 1932, mas se é posterior a 1932 e o cinema tem um filme em exibição, o mesmo não poderia ter encerrado definitivamente em 1929. Pesquisando pelo filme em questão, dei conta que o mesmo estreara em 1933. O Central Cinema tinha voltado a exibir filmes, desde o dia 13 de Setembro de 1933 segundo pude apurar através do Diário de Lisboa, mas foi através do confrade Bic Laranja, e aqui que descobri a data da estreia do referido filme em Lisboa.
Data de estreia, 11 de Dezembro de 1933. Data da foto, posterior a 25 de Dezembro de 1933.
Alpendre do Elevador da Glória, 1933, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
"Perto de Cabo Ruivo fica a quinta da Mattinha, outr’ora propriedade dos marquezes de Bellas (condes de Pombeiro). O nome d’esta quinta derivou da sua matta, que termina em muralha sobre o Tejo. Pinho Leal dá-nos a seguinte tradição local: Conta-se que no século XVIII, vindo pela matta um cavalleiro atraz da uma lebre, correndo a toda a brida, viu esta esconder-se entre as urzes; mas quando reparou que estava á borda do precipício, já não pôde soffrear o cavallo, que se precipitou d’aquella medonha altura, despedaçando-se e mais o cavalleiro, nos rochedos que bordam a praia." in "Portugal Pittoresco e Illustrado", A Extremadura Portugueza, Parte I, de Alberto Pimentel
Matinha, 1938, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Quinta da Matinha, 1938, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Matinha, 1938, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
"E agora me perguntas a razão por que neste Largo, de relativa aparência urbanista, ainda se encontram encostadas ao casarão Almada estas barracas côr de rosa, pouco menos que pardieiros. São também, com uma faixa de terreno anterior, da mesma propriedade do Palácio antigo. Aquilo não aproveita a cousa alguma; como o prédio Almada, poupado pelo Terramoto, não sofreu alinhamento o recanto ocupado manteve-se, e para ali está, com um sapateiro modesto e um barbeiro, depois de ter sido há uns trinta anos depósito de enxofre. Os casebres já arderam interiormente por duas vezes mas persistem." in Peregrinações em Lisboa, Livro 2, pág. 16, de Norberto de Araújo
Largo da Madalena, Janeiro 1941, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Rua da Madalena, Janeiro 1941, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.