As Barcas de Banhos
"Eram as barcas de banhos velhos cascos que se adaptavam a essa nova aplicação.
Para isso, aos lados duma coxia longitudinal de circulação no convés, adaptava-se, a cada um dos costados, de proa à popa, uma estrutura de madeira, semelhante a uma longa caixa, com tecto ou tejadilho, dividida interiormente por tabiques transversais em celas ou compartimentos, com sua porta para o convés na parede anterior. Constituíam essas celas as barracas, para os banhistas se vestirem e despirem.
Os compartimentos alongavam-se para fora do convés do barco, e as suas paredes laterais e a posterior, que desciam vedadas até ao nível da água, prolongavam-se para baixo desse nível com a forma de gaiolas, com três das suas paredes feitas de grades de sarrafos, e com o fundo de tábuas de solho, que ficava cerca de 1,30m abaixo do nível normal de água nos compartimentos.
Desta forma, cada barraca podia considerar-se formada por dois compartimentos sobrepostos: um aéreo, com o pavimento ou estrado ao nível do convés, no qual os banhistas se preparavam para o banho; outro aquático ou submerso, ou poço onde se tomava o banho, limitado pelo gradeamento de sarrafos e pelo costado do barco.
Com esta disposição, as pessoas não podiam ver os banhistas dos compartimentos laterais, nem do exterior se podiam ver as que estavam tomando banho.
Do compartimento superior descia-se para o poço por um escadote de madeira amovível que chegava até ao fundo.
Como as barcas estavam fundeadas, a água corrente das marés atravessava os sucessivos compartimentos submersos das barracas, pelos intervalos das grades de madeira das partes aquáticas das celas, proporcionando aos banhistas não só uma água permanentemente renovada, mas a surpresa do encontro com algum peixe ou alforreca, ou mesmo com qualquer objecto arrastado à tona de água.
Os compartimentos dos banhos tinham capacidades variáveis, conforme as distâncias dos tabiques divisórios transversais.
Assim, além dos banhos vulgares para uma pessoa, havia banhos «grandes», para famílias, e banhos «gerais» para clientes sem distinção; além destes havia ainda banhos de chuva nalgumas barcas.
As empresas exploradoras das barcas tinham ao seu serviço botes catraios, munidos com um toldo ou barraca de lona, que iam buscar e levar os respectivos fregueses ao embarcadouro do Terreiro do Paço, junto às escadas do cais do canto sudeste...Estes catraios ou botes também serviam para quem quisesse tomar banho no meio do rio. As barracas tinham a forma duma caixa paralelipipédica, que se armava à popa do bote, e eram constituídas por uma armação de 4 prumos e 4 travessas de madeira, que se revestiam com um toldo de lona, de forma a ficar completamente impenetrável à vista o interior da barraca.
Os bilhetes dos banhos custavam em 1865:
De proa, 100 réis,
Da ré, 80 réis,
Banhos grandes, 100 ou 120 réis,
Banhos gerais, 60 réis,
Banhos de chuva 160 réis.
As barcas estavam fundeadas no Tejo, defronte do Terreiro do Paço, um pouco mais para o lado do torreão do Ministério da Guerra.
Desde tempo indeterminado existiam no Tejo, e parece que nunca foram mais de três. Tinop em Lisboa de Outrora, 1835, dá noticia dos nomes: Grande, dos Tonéis, do Hiate.
Em 1865 as barcas, porventura as mesmas anteriores, chamavam-se então: Flor do Tejo, Diligência e Deusa do Mar."
in "Dispersos", Vol. III, pág. 376 a 379, de Augusto Vieira da Silva
Barcas de Banhos, no Terreiro do Paço, s/d, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Guia annunciador do viajante luso-brasileiro, 1888, in BNP
Vista do Cais do Sodré, no Tejo onde se pode observar uma barca de Banhos (segundo o recorte anterior esta Barca seria a Nova Flôr de Lisboa), início séc. XX, foto de Legado Seixas, in a.f. C.M.L.
Lisboa, Ponte dos Vapores, estudo para leque, na imagem um bote catraio em 1.º plano, imagem in Biblioteca Nacional
in "Dispersos", Vol. III, de Augusto Vieira da Silva
in "Dispersos", Vol. III, de Augusto Vieira da Silva
in "Dispersos", Vol. III, de Augusto Vieira da Silva