Casa dos Bicos
"Tem as cidades, como as familias, suas alcunhas, que o rolar dos seculos váe puindo até que de todo as apaga. Quando os antiquarios, que são os genealogicos das cidades, querem fazer a arvore de costado das povoações antigas, esbarram com alcunhas já transformadas em appellidos, cuja origem se esconde no denso nevoeiro das lendas e tradições oraes, a que não ha atinar certo com a ponta do fio quebrado desde muitos seculos.
Tal acontece a muitos sitios e monumentos da velha Lisboa. E não só aos que tem sumido os terremotos, aniquilando a acção do tempo, varrido o sopro dos melhoramentos materiaes, e demolido o alvião municipal, senão tambem aos que ainda subsistem de pé, embora mutilados, a gemer pelas fendas e bojos que ameaçam a completa destruição d'esses macrobios de pedra e cal.
Mas nenhum d'esses caducos edificios, hoje monumentos, ainda que fossem insignificantes na sua mocidade, tem de certo mais occulto nascimento e baptismo que a Casa dos Bicos, sita no bairro escuro de Alfama, a antiga Judiaria e nova Gibraltar de Lisboa christã."
ARCHIVO PITTORESCO, semanario illustrado, nº 10, 1860,
in Hemeroteca Digital Lisboa
Casa dos Bicos, foto de José Arthur Leitão Barcia, in a.f. C.M.L.
Casa dos Bicos, traseiras 1940, foto de Eduardo Portugal in a.f. C.M.L.
Casa dos Bicos, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.