Largo do Correio-Mor
"Em sessão de 2 de Agosto de 1860 recebeu a Câmara Municipal um ofício, em que o delegado de saúde pedia previdências àcerca do estado deplorável de um cano de despejo que ali corria nos entulhos, a entroncar no cano da rua de São Mamede.
Mas em 16 de Maio do ano seguinte, 1861, é que, a bem dizer, principia a concentrar-se a atenção dos vereadores no embelezamento do sítio, visto que na sessão dêsse dia é que se mandou proceder à vistoria dos terrenos fronteiros ao palácio Penafiel, a-fim-de se averiguar a quem pertenciam ao certo êsses monturos. Realizou-se o exame a 22, às 11 horas.
Levou o seu tempo o negócio, como tudo em Portugal. Só em 8 de Maio de 1865 é que o vereador César d'Almeida dá parte à Câmara de que, em virtude da autorização recebida em 30 de Março, escrevera logo em 31 para Roma, ao conde de Penafiel, indicando-lhe as condições com que o município empreendera fazer o desaterro e ajardinamento das rampas na rua Nova de S. Mamede, condições que eram as seguintes:
1.ª - O largo em frente do grande palácio do referido conde, e as obras de suporte, serventias, etc.. ficariam propriedade da Câmara;
2.ª - Nesses terrenos não poderia a Câmara edificar.
3.ª - Sendo o orçamento calculado em 2:600$000 réis, o conde concorreria com metade.
Em 22 de Abril respondia o conde de Penafiel ao respectivo vereador, que anuía de todo às cláusulas citadas; pelo que, só se carecia de autorização da Câmara para se começar quanto antes.
E começou-se...Foi depressa a obra. O conde de Penafiel ofereceu bizarramente 100$000 réis, como donativo para auxiliar a construção dessa meia laranja em frente do passeio...Começou-se a povoar o sítio com algumas casas novas; e os vários ramos dessa calçada tomaram nomes. Requereu o conde que se colocassem os letreiros porque já eram conhecidas as serventias daquele precipício: travessa da Mata, e calçada do conde de Penafiel...Mas fez mais ainda o conde de Penafiel; pediu para ser autorizado a mandar êle colocar os letreiros com a denominação de largo do Correio-mor, no largo fronteiro ao seu palácio; ao que a Câmara anuiu sem demora.
Arborisou-se tudo; macadamisou-se o piso; a requerimento do vereador Vaz Rans pôs-se uma gradaria de ferro na cortina do topo da calçada do conde de Penafiel, em seguimento e por cima da travessa da Mata; e em suma, com estas justas providências, tiveram os entulhos de S. Mamede a ventura de trocar a sua feição sertaneja no aspecto elegante que hoje ostentam, sendo um oasis agradável e salubre."
in "Lisboa Antiga Bairros Orientais" 2.ª Edição, Vol. IX, pág. 212 a 215
Neste Largo foi colocado, já na segunda metade do séc. XX, o pano de fachada e respectiva bacia de recepção de águas, do demolido Chafariz das Mouras (demolido por falta de água), onde ainda hoje se mantêm.
Largo do Correio-Mor, s/d, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
Planta Topográfica de Lisboa 11 F, 1909, de Alberto de Sá Correia, in A.M.L.
Calçada do Conde de Penafiel, post. a 1902, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Largo do Correio-Mor, e Calçada do Conde de Penafiel, 1901, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Palácio Penafiel, e parte do Largo do Correio-Mor, 1901, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Travessa da Mata e um extremo do Largo do Correio-Mor , 1901, foto de Machado & Souza, in a.f. C.M.L.
Fachada do antigo Chafariz das Mouras, no Largo do Correio-Mor, foto retirada do Sítio da C.M.L.