Igreja de S. Domingos
"Egreja de S. Domingos, o mais vasto templo da capital, e que, ainda ha pouco, serviu para a celebração das mais apparatosas festas religiosas, em quanto se faziam os reparos na Sé Patriarchal.
O convento dos religiosos da ordem dos Pregadores, ou de S. Domingos, foi fundado primeiramente por el-rei D. Sancho II, o qual lançou, em 1241, a primeira pedra nos alicerces. Em 1249 mandou el-rei D. Afonso III fazer a egreja; e mais tarde, el-rei D. Manuel mandou fazer o dormitório.
É muito curioso o que refere fr. Luiz de Sousa, e vem a ser: que achára, por memorias antigas, que por onde hoje é a cidade baixa vinha antigamente um esteiro de mar, com fundo bastante para receber navios. Affirma o mesmo elegante chronista que, na occasião de se abrirem uns alicerces para fazer um novo dormitório no mencionado convento de S. Domingos, no anno de 1571, fôra descoberta silharia de pedra bem lavrada, e de espaço em espaço grossas argolas de bronze, mostrando que houvera ali um caes, onde se amarravam navios. Muitas vezes entrou a agua no convento de S. Domingos, arrazando tudo quanto encontrava; e não eram sómente as chuvas torrenciaes que faziam estragos, senão tambem o mar entrava pelos canos publicos, e talvez por cima das ruas. E agora...aquelle sitio e toda a cidade baixa, são a mais bella porção da capital, e estão completamente preservados de taes inconvenientes e perigos.
Os priores do convento foram pouco a pouco melhorando a edificação. Em 1724, graças á actividade do provincial fr. Antonio do Sacramento, houve grandes aperfeiçoamentos; e em 1748 foi edificada a capella-mor pelo risco de Ludovici, concluida depois por Belino de Padua, obra muito custosa, para a qual muito concorreu a liberalidade de el-rei D.João V. Tudo isto foi destruido pelo terremoto de 1755 e incendio que se lhe seguiu; sendo tambem pasto das chammas ricos ornamentos, um consideravel numero de quadros, e uma livraria, rica de livros e manuscriptos.
Depois do terremoto foram restaurados pouco a pouco o convento e a egreja. D'aquelle, apenas nos cumpre dizer que foi, depois da extincção dos conventos, convertido em bellas casas de habitação, que hoje aformoseiam aquelles sitios."
in A Ilustração Portuguesa : semanário : revista literária e artística, 1º Ano, N.º 36, 2 de março de 1885
Igreja de São Domingos, fachada principal, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa, Nº 36, 1858, de filipe Folque, in A.M.L.
Igreja de São Domingos, interior, foto de Alberto Carlos Lima
Igreja de São Domingos, custódia, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Igreja de São Domingos, relicário, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Igreja de São Domingos, cálice, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Igreja de São Domingos, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
Em 13 de Agosto de 1959, um fogo destruiu o interior da Igreja, a talha dourada do altar foi destruída, imagens valiosas foram irremediavelmente perdidas. A Igreja de São Domingos só reabriu em 1994. Nas pedras negras dos altares permanecem as máculas do incêndio, apenas o tecto apresenta uma coloração alaranjada. As pedras do chão estão quebradas devido às altas temperaturas.
Igreja de São Domingos, rescaldo do incêndio, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.
Interior da Igreja de São Domingos, foto de Eduardo Dantas, in Panoramio