"Neste Largo, de acanhadas dimensões, mas de larga história, tem havido de tudo: olarias, fábricas, um liceu, palácios com vida própria e intensa, como o do Intendente, que deu o nome ao Largo, e o que foi da Viscondessa da Graça. Teve sempre grande movimento...É que era um nunca acabar de ruídos, que, começavam às duas horas da madrugada dum dia para só acabarem âs duas horas da manhã do dia seguinte. Não havia folga nem descanso: eram as vendedeiras de hortaliça, petróleo e peixe, com os seus pregões...Eram os carros churriões e caleches, os burros e cavalos de leiteiras e almocreves, os peões, e, que seu eu, tudo o que ia e vinha do Lumiar, Caneças, Bucelas, Sacavém e até de lugares vizinhos, solitários então, hoje cidade como nós, como o Arco do Cego, o Arieiro, o Poço dos Mouros, a Penha de França e o Alto de S. João. Era uma das saídas naturais de Lisboa e por isso o seu bulício e movimento. Hoje, a vida é ainda aqui bastante intensa, mas o barulho é menor. A não ser o carregar e descarregar do ferro que se alberga pela vizinhança, em depósitos e armazéns e as buzinas das camionetas de praça que vieram substituir os "ripers", os "choras", e os eléctricos de 10 réis, com a bandeirinha vermelha, que circulavam pelo extremo sul do largo, pela rua e travessa do Benformoso, para a Rua da Palma, pouco mais se ouve. Tudo mudou, até o chafariz que tanto tempo aqui esteve e que o prédio que lhe nasceu por trás fez deslocar mais para baixo, para junto do Desterro. Dois espécimenes interessantes teve na sua vizinhança, que ainda perduram, um ainda no seu lugar, a Bica do Desterro, hoje seca, com uma linda pedra de armas de Lisboa do Século XVI; outra a Igreja dos Anjos, que com a mesma conformação, recheio e traça, passou, quando da abertura da Avenida D. Amália, mais para cima, para o local ajardinado onde hoje está." Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa",A. XIII, n.º 50, Abril 1950
Chafariz do Intendente, ao lado, a fábrica Viúva Lamego, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº28,de Filipe Folque, in A.M.L.
Largo do Intendente Rua dos Anjos - alargamento,1901, in A.M.L.
Largo do Intendente Rua dos Anjos - alargamento,1901, in A.M.L.
Antiga Igreja dos Anjos, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Igreja dos Anjos, foto de Joshua benoliel, in a.f. C.M.L.
Bica do Desterro, 1951, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Chafariz do Intendente, 1944, foto de Fernando Martinez Pozal, in a.f. C.M.L.
Fábrica de cerâmica Viúva Lamego, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
"José Luís Monteiro nasceu em Lisboa a 25 de Outubro de 1848. Depois de concluir a instrução primária em 1859, ingressou no ensino preparatório e no ensino técnico-profissional da Real Academia das Belas Artes de Lisboa, obtendo vários prémios na área da arquitectura. Em Novembro de 1879, obteve o diploma de arquitecto da École Nationale et Spéciale des Beaux Arts de Paris, que coincidiu com a sua viagem de investigação por França, Mónaco, Itália, Suiça e Espanha. Durante este percurso, elaborou vários apontamentos, aguarelas e estudos naturalistas sobre os cenários que visitou. Em 1886, foi nomeado consultor e superintendente do gabinete técnico da Companhia Carris de Ferro, tendo realizado a fachada para a estação do Rossio, introduzindo a utilidade tecnológica do ferro na construção portuguesa. Projecto de construção da Avenida Almirante Reis Em 1901, foi agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra pelo Presidente da República Francesa. Em 1909, ingressou na Câmara Municipal de Lisboa, com a categoria de arquitecto-chefe, tendo sido o representante da autarquia no júri do prémio Valmor de Arquitectura. Da sua vasta obra destaca-se a realização do liceu nacional Passos Manuel em 1881, o Hotel Avenida Palace entre 1890 e 1892 e a reconstrução da Igreja dos Anjos em 1897. Morreu em 27 de Janeiro de 1942, em Campo de Ourique, sendo sepultado no seu jazigo familiar no cemitério do Alto de São João."
José Luís Monteiro (1848-1942). O percurso de formação de José Luís Monteiro é bem elucidativo do que terá sido a formação de um arquitecto à época. Com 12 anos entra para a Real Academia de Belas-Artes de Lisboa onde estuda durante 10 anos. Em 1873, com 24 anos parte para Paris, bolseiro, onde se mantém durante 5 anos, concluindo o curso nas Beaux-Arts de Paris. Segue-se o “Grand Tour”, ainda como bolseiro, uma viagem pela Europa central, e uma estadia em Itália, que percorre, demorando-se mais em Veneza, Florença e Roma. Regressa a Portugal em 1880, com 32 anos. Casa em 1884 com 36 anos. Constrói a sua casa em 1893, aos 45 anos. Ingressa na Câmara Municipal de Lisboa, em 1880, como técnico, cargo que manterá até à sua aposentação em 1909. Em 1881 passa a reger a cadeira de Arquitectura Civil, na Academia de Belas-Artes de Lisboa, onde se manterá até 1929. Em 1902 ajuda a fundar a Sociedade dos Arquitectos Portugueses. Paralelamente mantém uma actividade de projecto que se desenvolve na área da habitação, equipamentos e turismo. Destacam-se os projectos do Chalet Biester, Sintra (188?), o Real Ginásio Club Português (1883), o Mercado central de Lisboa (1885), Sociedade de Geografia de Lisboa (1897), a Estação Central dos Caminhos-de-ferro de Lisboa, Rossio (1886-1997), Hotel Avenida Palace (1890-1892); Chalet Faial em Cascais (1896); Capela do Chalet Palmela, Cascais (1919).