Paços do Concelho de Lisboa
"Rebentando subitamente, devido a causas que até hoje ficaram ignoradas o pavoroso incêndio da noite de 19 de Novembro de 1863, que destruiu quasi todo o palacio feito em 1770 a 1774, pelo risco do architeto Eugênio dos Santos Carvalho. Esse edifício, que ocupava um enorme quadrilongo entre a Rua do Arsenal e Rua dos Capellistas, a entestar com a Rua Aurea, tendo a fachada de frente para o Largo do Pelourinho, era solidamente construído com magnificas madeiras do Brazil, ocupava a area de 86m,46 de comprimento por 43m,12 de largura, tinha de altura 16m,75 e havia importado em 121 contos de réis. A Camara Municipal tinha reservado para si a parte de edifício que dava para a Rua do Arsenal e Terreiro do Paço, fazendo a entrada para repartições pelo portão de ferro que se acha debaixo da Arcada e que hoje dá ingresso para a Secretaria do Ministério do Reino. Essa fachada era composta de tres corpos. O corpo central era ocupado por um grande portão de ferro dando ingresso para um pateo muito amplo, onde entravam as carruagens. Por cima achava-se a grande sacada do salão nobre, muito similhante áquella que hoje se vê sobre o Arco de Bandeira. Como remate ao corpo central havia um pequeno frontão de cantaria, ao centro do qual o escudo das armas portuguezas; no vertice a esphera armilar, e sobre os ângulos lateraes duas urnas de pedra artisticamente cinzeladas. Cada um dos corpos lateraes tinha quatro andares com 17 janelas de cada lado; ao todo 34, sendo 10 de sacada, no primeiro pavimento, e 20 de peitoril, que formavam o segundo e terceiro pisos; e as quatro mansardas, 2 de cada lado.
O edifício actual em nada se parece com o palacio devorado pelo incêndio de 1863. Forma todo o segundo quarteirão da Rua Aurea, tornejando para a Rua,dos Capellistas e para a Rua de S. Julião. A sua configuração e altura são exatamente as mesmas de todos os outros quarteirões da Rua Aürea. É composto de quatro andares, tendo cada andar 4 janelas para a Rua dos Capellistas, 11 para a Rua Aurea e 10 para a Rua de S. Julião."
Adaptação de um trecho de "Portugal Pittoresco e Illustrado", Lisboa, de Alfredo Mesquita
Paços do Concelho de Lisboa, durante as obras de construção, após o incêndio de 1863. Foto entre 1865-1880, incluída nas Provas Originais, in a.f. C.M.L.
Paços do Concelho, antes do incêndio de 1863, foto de Legado Seixas
Incêndio no edifício da Câmara Municipal de Lisboa e do Banco de Portugal, em Novembro de 1863. Gravura, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.
Paços do Concelho, final séc. XIX, foto de Idalino Santos, in a.f. C.M.L.