"Á entrada dos Jeronymos foi d'um bello effeito o desfile, assim como diante do tumulo do grande historiador, que está no claustro da Casa Pia. O chefe do Estado estivera ali momentos antes e depuzera uma corôa sobre o monumento onde jaz aquelle que foi o mais devotado amigo de D. Pedro V e seu mestre em lettras. Apoz a passagem do cortejo no mosteiro, a camara municipal de Lisboa, acompanhada por muito povo, pela comissão executiva do centenario e alguns estudantes, foi á egreja da Boa Hora, proxima d'Ajuda, onde esteve installado o antigo municipio de Belem, de que o historiador foi o primeiro presidente e ali descerrou a lapide collocada na fachada do edificio e onde se lê: <<Ao egregio cidadão de Lisboa; ao extremoso defensor das regalias municipaes; ao primeiro presidente da extincta camara municipal de Belem, Alexandre Herculano de Carvalho Araujo. Homenagem da Camara Municipal de Lisboa. Primeiro centenario do seu nascimento 1810-1910.>>" in Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 220, 9 de Maio de 1910
O cortejo das comemorações do centenário de Alexandre Herculano, foto de Joshua Benoliel, in a.m. C.M.L.
A comissão do centenário de Alexandre Herculano à porta do mosteiro dos Jerónimos com as pessoas que foram em romaria ao túmulo do historiador, foto de Joshua Benoliel, in a.m. C.M.L.
Romagem ao mausoléu de Alexandre Herculano no Mosteiro dos Jerónimos, foto de Joshua Benoliel, in a.m. C.M.L.
Mosteiro dos Jerónimos, túmulo de Alexandre Herculano, foto de Domingos Alvão, in a.m. C.M.L.
"Um triste acontecimento commoveu ha poucos dias Lisboa e o resto do paiz. Abateu o corpo central da nova galeria em construcção junto ao magnifico templo dos Jeronynos, e que constituindo a frente da Casa Pia, estava a ponto de concluir-se depois de longos annos de trabalhos e de muitos capitaes dispendidos, devendo então, com o monumento que recorda os nossos feitos passados, constituir um todo harmonico, especimen d'essa architectura maravilhosa que hoje asignala a gloriosa epocha de D. Manuel I, d'onde tirou o nome. O desmoronamento teve logar no dia 18 de dezembro pelas 9 horas da manhã, e do altivo torreão que já se elevava aos ares perto talvez de trinta metros, apenas resta hoje de pé, quasi intacto felizmente, o corpo inferior, como a nossa gravura o representa, salvando-se a varanda gothica, de admiravel desenho, e o portico ligeiramente damnificado. Poucos dias antes fôra collocada no nicho superior á primeira varanda, uma magnifica estatua da Caridade, cinzelada pelo distincto esculptor Simões de Almeida, e essa mesma teve a cabeça decepada. N'este desastre houve sobretudo a lamentar a morte de oito vidas. Oito dos trabalhadores que lidavam na obra, não podendo fugir a tempo, foram colhidos pela derrocada, ficando soterrados n'aquella pesada mole de areia e de cantaria...Lamenta-se que, depois de oito vidas de pobres trabalhadores, se hajam perdido com o desastre centenas de contos de réis, quando era talvez melhor ter deixado de os empregar de semelhante fôrma. Em todo o caso o que seria hoje um absurdo maior era reedificar o torreão derrocado pelo plano primitivo. Não pode ser: é preciso que a opinião dos homens competentes intervenha e que o edificio levantado ao lado dos Jeronymos mostre ao menos que no nosso tempo ainda se comprehende a harmonia architectonica d'aquelle magnifico templo." in O Ocidente : revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, N.º 25 ( 1 Jan. 1879)
Mosteiro dos Jerónimos, ruínas causadas pelo desmoronamento da torre central, 1878, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Imagem da revista "O Ocidente", de 1 Janeiro de 1879
Mosteiro dos Jerónimos, espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Mosteiro dos Jerónimos, espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Imagem da revista "O Ocidente", de 15 Janeiro de 1879
Mosteiro dos Jerónimos, fachada, foto de Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.