Limoeiro
"No reinado de D. Fernando o Limoeiro, conhecido então pela denominação de Paços de S. Martinho, do nome de uma egreja que lhe ficava proxima e da qual já não restam vestigios, apparece fazendo figura. Paço dos reis portuguezes, o palacio do Limoeiro assistiu ao adulterio de Leonor Telles com o rei Fernando, das janellas d'este palacio pôde a implacavel Leonor Telles, que Alexandre Herculano classificou como a Lucrecia Borgia portugueza, assistir á execução summaria de Fernão Vasques e dos seus companheiros de rebelião. Foi ali que o mestre de Aviz, apoz a morte de D.Fernando, veio encontrar o conde Andeiro ajoelhado aos pés da rainha viuva, e, fazendo-se a um tempo o vingador dos ressentimentos populares e o Messias da nacionalidade ameaçada da absorpção castelhana, assassinou sem escrupulos o fidalgo gallego.
O Limoeiro tem soffrido grandes transformações; e como se a mão do homem fosse insufficiente para o desfigurar, veio o terremoto de 1755 arruinar grande parte do edificio, do qual ainda existem vestigios ao lado Norte, depois foi ampliado pelo marquez de Pombal.
Do primitivo restam ainda: a sala, collocada no extremo sul do edificio, sala onde o mestre de Aviz assassinou o conde Andeiro, arrastando o depois para o vão da janella á qual hoje os presos se chegam a tomar ar. Há vestigios d'um altar, que hoje serve de arrecadação de cobertores, altar cuja existencia se explica por ter sido aqui a capella do edificio, antes da sua transferencia para sala das visitas.
O pateo, que se estende pelas duas areas, a primitiva e a pombalina, é reservado para os presos que queiram trabalhar no seu officio, ou a quem um outro preso queira ensinar qualquer officio. O general director concede pequenas porções d'um telheiro para que os presos empreiteiros ou mestres ahi levantem as suas barracas, para guardarem as ferramentas, a materia prima e o trabalho já feito.
A casa dá aos presos pobres um par de calças de estopa e uma camisa de riscado; roupa boa para a estação calmosa; detestavel porém para o inverno. O rancho para estes mesmos presos é fornecido ás 7 horas da manhã e ás 3 horas da tarde; á hora da distribuição do rancho da manhã é tambem entregue a cada preso meio pão de munição que lhe deve chegar para o dia inteiro. Vinho, para evitar as desordens que são sempre companheiras da embriaguez, apenas pode entrar por dia na conta de 4 decilitros para cada um, salvo determinação contraria do medico - para mais ou para menos. Quanto á qualidade, apenas é admittido o vinho de pasto havendo todo o rigor para não deixarem entrar bebidas espirituosas."
in Branco e Negro : seminário ilustrado, N.º 5 a N.º 9, Maio de 1896
Cadeia do Limoeiro, 1910, foto de Augusto Bobone, in a.f. C.M.L.
Levantamento topográfico de Francisco e César Goullard, Nº 44, in A.M.L.
Cadeia do Limoeiro, pátio, 1911, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Cadeia do Limoeiro, 1911, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
A cadeia do Limoeiro vista de Santo Estêvão, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Panorâmica sobre o Limoeiro tirada da Igreja de Santiago, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Cadeia do Limoeiro, 1911, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.