Palácio da Bemposta - Paço da Rainha
"Carlos II de Inglaterra morria em 1685 deixando viúva D. Catarina de Bragança, filha do nosso Rei D. João IV...D. Catarina conservou-se em Hampton Court, até fins de 1692, data em que, se põe a caminho de lisboa...Faz a sua viagem por terra, atravessando a França, a Espanha e Portugal...vem a comitiva, estrada fora, até à capital, aqui chegando em 20 do mesmo mês de Janeiro do ano da graça de 1693...Seu irmão, El-Rei D. PedroII, foi esperá-la ao Limiar; e dali a conduziu, em luzido séquito, até o Palácio de Alcântara, onde D. Catarina ficou instalada.
Pouco tempo ficou a rainha em Alcântara. E durante um período de oito não houve fixá-la em qualquer palácio da capital...É muito provável que tais andanças e incómodos lhe sugerissem o desejo, por esse tempo, duma instalação definitiva, que fosse propriedade sua. Presa a esse desejo, deve a Rainha ter vindo visitar, no Campo da Bemposta, junto ao Campo do Curral e Carreira dos Cavalos, em sítio aprazível e lavado de ares, no termo da cidade, um conjunto de casas nobres e outras mais pequenas, uma horta, uma grande quinta que se estendia bom pedaço para norte, o que lhe pareceu a seu inteiro e real contento. Pertenciam tais propriedades a uma Senhora Dona Francisca Pereira Telles, viúva do Contador-Mor do Reino, Plácido de Castanhede de Moura, e filha do doutor Luiz Pereira de Barros, ao tempo já falecido. A parte vinculada desses bens tinham-lhe vindo em terça do testamento feito por seu citado Pai,- justamente as referidas casas nobres. Oresto adquirira-o o seu falecido marido com o esforço de engenhosa administração.
Depois das voltas de uso, ao tempo, em transacções desta importância, foram os bens vinculados subrogados por um Padrão de 16.466$666 com o juro de 658$666. Pelos bens livres pagou D. Catarina 12.967$547 reis...Obras de adaptação ao futuro <<Paço da Rainha>>, o que houve, segundo todas as probabilidades, foi uma adaptação, não muito profunda, daquelas paredes, à vida simples da Majestade que dentro delas veio viver o resto dos seus dias. As poucas benfeitorias provam-se não apenas com o facto de D. Catarina de Bragança ter morrido em 1705, portanto cerca de três anos depois de fechada a transacção que lhe deu a posse dos prédios, mas ainda vendo a planta do palácio, de divisões mesquinhas e irregulares; nela avulta o pormenor pouco elegante da entrada nobre, praticada num extremo do edifício. É de admitir que o arquitecto, cujo nome é hoje desconhecido, e que recebeu da Rainha o encargo de restaurar as casas nobres que haviam pertencido à viúva de Plácido Castanhede de Moura - tenha concebido o projecto de construir um segundo corpo do palácio, na continuação do primeiro, corpo esse que fosse até à esquina que deita para o Cabeço de Bola. A ser assim, como parece admissível, já o átrio de duas portas, que certamente serviam para a entrada e saída dos coches, ganharia a nobreza que não tem, a despeito dos frontões interrompidos, ladeados de leões e unicórnios, ornados de brazões bipartidos, sobre o escudo em lisonja, da infanta-Rainha, com as armas da Inglaterra e Portugal.
No edifício irregular e feio, onde com o rolar dos tempos os homens foram modificando, derrubando, acrescentando a seu talante, talvez por não lhes impor respeito a trça alheia a uma bela planta original, - existem ainda hoje três salas que, sem serem bonitas, mantêm talvez a sua primitiva expressão. São elas, com a fachada do palácio, o que ainda aqui existe verdadeiramente relacionado com o século XVII."
in Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. X, n.º 40, Outubro 1947
Palácio da Bemposta, capela, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Atlas da carta topográfica de Lisboa, n 20, filipe folque, in A.M.L.
Palácio da Bemposta, fotógrafo n/i,
Palácio da Bemposta, capela, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
Palácio da Bemposta, fachada principal, estudio mário novais, in a.f. C.M.L.
Palácio da Bemposta, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.