A inauguração não mereceu à data, mais do que meia dúzia de linhas nos periódicos da Capital. A cerimónia da conclusão da obra da Estátua de D. João I, na Praça da Figueira, foi extremamente simples e consistiu na deposição de uma palma de flores no monumento, por parte do Presidente da C.M.L., o eng. Santos e Castro, acompanhado de alguns vereadores e outras individualidades convidadas. Acabado o monumento, arranjada a Praça, havia o perigo de o dia ser de temporal, talvez fosse essa a razão de uma cerimónia tão singela. Tendo servido de Mercado desde 1775, até 30 de Junho de 1949, foi esta Praça utilizada como parque de estacionamento, desde a desmontagem do Mercado em 1949, até Dezembro de 1971. A Estátua, nascida do cinzel e da mestria de Leopoldo de Almeida representa D.João I, Mestre de Aviz, numa estátua equestre, inaugurada no dia 30 de Dezembro de 1971.
Monumento a Dom João I, anos 80, foto de Artur Pastor, in a.f. C.M.L.
Estátua equestre de D. João I, para a praça da Figueira, Lisboa. Atelier da Avenida da Índia, foto Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte / Art Library Fundação Calouste Gulbenkian
Estátua equestre de D. João I, para a praça da Figueira, Lisboa. Atelier da Avenida da Índia, foto Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte / Art Library Fundação Calouste Gulbenkian
Edificação do pedestal do Monumento a Dom João I, Março 1967, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.
Edificação do pedestal do Monumento a Dom João I, Março 1967, foto de Armando Serôdio
Obras de remodelação da Praça da Figueira, tendo ao centro o pedestal para a estátua equestre de Dom João I, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Foto da deposição de uma palma de flores na inauguração do monumento, in Revista municipal N.º 130/131
Panorâmica da praça da Figueira com destaque para o monumento a Dom João I, 1972, foto de Armando Serôdio, in a.f. C.M.L.
"É ainda hoje um dos melhoramentos devidos ao grande marquez de Pombal. Havendo ardido o Hospital de Todos os Santos e tendo-se resolvido a sua mudança para o local que hoje occupa, com o nome de Hospital de S. José, foi o local, onde até ahi existira, cedido por uma doação regia á camara municipal de Lisboa. O alvará d'esta doação é de 2 de novembro de 1775, e a area doada compõe-se de quatro frentes, tendo por extensão, de norte a sul, trezentos e oitenta palmos, e de nascente a poente quatrocentos e quarenta. <<A edificação d'este mercado diz o sr. Freire d'Oliveira nos Elementos para a historia do municipio de Lisoa, custou á cidade dez contos duzentos cincoenta e um mil trezentos e quarenta e dois réis>>, isto é, a decima parte do custo do mercado 24 de Julho, concluido em 1881...Este mercado conservou o risco primitivo até 1834, tendo soffrido depois alterações, sendo as mais notaveis as de 1849, porque então foi fechado com portas e grades de ferro nas suas oito entradas."
Mercado da Praça da Figueira, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Nasceu em 1755, no terreno das ruínas do Hospital de Todos os Santos, pondo-se como mercado central e destinado à venda de frutas e legumes. Passou entretanto por vários nomes: Horta do Hospital, Praça das Ervas, Praça Nova e Praça da Figueira. De um local de bancadas diárias passou a praça fixa, com barracas arrumadas e um poço próprio.Ao longo dos tempos, foi sofrendo algumas alterações consoante as necessidades da população. Assim, em 1835, é arborizada e iluminada, em 1849 foi-lhe colocada uma cerca gradeada, coberta e com 8 portas e em 1882 foi aprovado o projecto da nova praça, que consistia num edifício rectangular, com estrutura metálica e ocupando uma área de quase 8 mil metros quadrados.Da venda de fruta e legumes, passou-se à transacção de outros produtos alimentícios necessários à população, fazendo da baixa lisboeta um local com um constante fervilhar de vida.Desde logo, a praça tornou-se um dos emblemas de Lisboa, quer pela sua construção, quer pela sua localização no centro da cidade, quer ainda pela realização de verdadeiros arraiais por altura dos santos populares, transformando-a num verdadeiro teatro.Em 1947, a vereação da altura decidiu o fim da praça, prevendo o alargamento da rede viária de Lisboa, que incluía a demolição do Socorro e zona baixa da Mouraria como forma de escoamento de trânsito, aproximando a cidade de Lisboa aos padrões europeus. Em 1949 festeja-se o último Stº António, procedendo-se de seguida - a 30 de Junho - à demolição do edifício. 1968 é o ano da assinatura do contrato para a construção da estátua equestre de D. João I.
"José Luís Monteiro nasceu em Lisboa a 25 de Outubro de 1848. Depois de concluir a instrução primária em 1859, ingressou no ensino preparatório e no ensino técnico-profissional da Real Academia das Belas Artes de Lisboa, obtendo vários prémios na área da arquitectura. Em Novembro de 1879, obteve o diploma de arquitecto da École Nationale et Spéciale des Beaux Arts de Paris, que coincidiu com a sua viagem de investigação por França, Mónaco, Itália, Suiça e Espanha. Durante este percurso, elaborou vários apontamentos, aguarelas e estudos naturalistas sobre os cenários que visitou. Em 1886, foi nomeado consultor e superintendente do gabinete técnico da Companhia Carris de Ferro, tendo realizado a fachada para a estação do Rossio, introduzindo a utilidade tecnológica do ferro na construção portuguesa. Projecto de construção da Avenida Almirante Reis Em 1901, foi agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra pelo Presidente da República Francesa. Em 1909, ingressou na Câmara Municipal de Lisboa, com a categoria de arquitecto-chefe, tendo sido o representante da autarquia no júri do prémio Valmor de Arquitectura. Da sua vasta obra destaca-se a realização do liceu nacional Passos Manuel em 1881, o Hotel Avenida Palace entre 1890 e 1892 e a reconstrução da Igreja dos Anjos em 1897. Morreu em 27 de Janeiro de 1942, em Campo de Ourique, sendo sepultado no seu jazigo familiar no cemitério do Alto de São João."
José Luís Monteiro (1848-1942). O percurso de formação de José Luís Monteiro é bem elucidativo do que terá sido a formação de um arquitecto à época. Com 12 anos entra para a Real Academia de Belas-Artes de Lisboa onde estuda durante 10 anos. Em 1873, com 24 anos parte para Paris, bolseiro, onde se mantém durante 5 anos, concluindo o curso nas Beaux-Arts de Paris. Segue-se o “Grand Tour”, ainda como bolseiro, uma viagem pela Europa central, e uma estadia em Itália, que percorre, demorando-se mais em Veneza, Florença e Roma. Regressa a Portugal em 1880, com 32 anos. Casa em 1884 com 36 anos. Constrói a sua casa em 1893, aos 45 anos. Ingressa na Câmara Municipal de Lisboa, em 1880, como técnico, cargo que manterá até à sua aposentação em 1909. Em 1881 passa a reger a cadeira de Arquitectura Civil, na Academia de Belas-Artes de Lisboa, onde se manterá até 1929. Em 1902 ajuda a fundar a Sociedade dos Arquitectos Portugueses. Paralelamente mantém uma actividade de projecto que se desenvolve na área da habitação, equipamentos e turismo. Destacam-se os projectos do Chalet Biester, Sintra (188?), o Real Ginásio Club Português (1883), o Mercado central de Lisboa (1885), Sociedade de Geografia de Lisboa (1897), a Estação Central dos Caminhos-de-ferro de Lisboa, Rossio (1886-1997), Hotel Avenida Palace (1890-1892); Chalet Faial em Cascais (1896); Capela do Chalet Palmela, Cascais (1919).