Uma querena no Tejo
"Uma querena no Tejo - O navio vira-se, descobre a quilha e prepara-se para limpeza e concerto. É operação perigosa, mas fácil para os marinheiros e calafates portuguezes, que estão costumados a ella, e que é commum vêr-se em os nossos portos. Aos estrangeiros, que têem os seus fundeadouros com docas de abrigo e de concertos, não lhes figurava natural que se pudesse virar uma embarcação no rio. Conta-se que os inglezes, quando ouviram fallar de querenas se admiraram, e - como o santo de quem se diz que não podia crêr sem vêr, - vieram ao Tejo para acreditarem e para louvarem a pericia dos nossos maritimos, que ainda são hoje dignos descendentes d'aquelles ousados varões que sulcaram os mares desconhecidos para darem ao mundo novo riquezas e luzes. Com a construcção das docas contudo, em Lisboa, nas duas margens do Tejo, as querenas estão hoje, para assim dizel-o, no ultimo periodo."
in "A gravura de madeira em Portugal : estudos em todas as especialidades e diversos estylos" de PEDROSO, João, 1823-1890
in "A gravura de madeira em Portugal : estudos em todas as especialidades e diversos estylos" de PEDROSO, João, 1823-1890