No ano de 1900, a 16 de Agosto, morre, em Neuilly, o escritor Eça de Queiroz, após prolongada doença. No mês de Setembro, o corpo do escritor seria trasladado para o cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.
Nascido na Póvoa do Varzim (25 de Novembro de 1845), Eça de Queiroz desenvolveu a sua vida literária entre meados dos anos 1860 e 1900. Nesse lapso temporal, Eça marcou a cena literária portuguesa com uma produção de alta qualidade, parte dela deixada inédita à data da sua morte.
Monumento a Eça de Queiroz, obra de Teixeira Lopes, foi inaugurado em 1903, foto de alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
A relação de Lisboa com Eça de Queiroz, está bem patente em alguns marcos lisboetas, referidos na sua vasta obra, aqui ficam apenas alguns exemplos.
Casa Havaneza e a Brasileira, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
"Nos fins de Maio de 1871 havia grande alvoroço na Casa Havanesa, ao Chiado, em Lisboa..." in "O Crime do Padre Amaro"
Grande Hotel Central, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
"Nessa tarde, às seis horas, Carlos, ao descer a Rua do Alecrim para o Hotel Central, avistou Craft dentro da loja de bricabraque do tio Abraão..."
in "os Maias"
Grémio Literário, foto de Joshua Benoliel, in a.f. C.M.L.
"Mas vê lá...Não sejas o costumado Dâmaso! Não te vás pôr a alardear isso pelo Grémio e pela Casa Havanesa!..." in "Os Maias"
O Aterro, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
"Chegara ao fim da Rua do Alecrim quando viu o conde de Steinbroken, que se dirigia ao Aterro, a pé seguido da sua vitória a passo..." in "Os Maias"
Rossio, foto de Manuel Tavares, in a.f. C.M.L.
"Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, o rolar dos americanos, subiam, numa vibração mais clara, por aquele ar fino de Novembro..." in "Os Maias"
Teatro Nacional de São Carlos, foto de Domingos Alvão, in a.f. C.M.L.
"Nessa noite em S. Carlos, num entreacto dos <<Huguenotes>>, Ega apresentou-o ao senhor conde de Gouvarinho, no corredor das frisas..." in "Os Maias"
Estação de Santa Apolónia, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
"Depois de Santa Apolónia a estrada começou, infindável, desabrigada, batida pelo ar agreste do rio..." in "Os Maias"
"É já um lugar comum chamar à Praça do Rossio a sala de visitas de Lisboa. Concedâmos que todo o vasto recinto tem hoje, efectivamente, o caracter peculiar a uma capital. Mas é talvez o pombalino, beliscado aqui e ali por incómoda alteração, é o Arco-Bandeira, serão mesmo os dois <<pastiches>> do Teatro Nacional e da estátua de D. pedro, que ao local dão uma presença, um estilo nítidamente lisboeta, como não é possível encontrar em outra parte. O Rossio, a Praça do Rossio, que o povo, com instinto seguro, nunca chamou a Praça de D. Pedro, desprende da sua perspectiva, do recorte regular dos seus prédios e janelas, sobretudo quando se vem de fora...A Praça do Rossio, nesses momentos, quando no ar tem seu quê de amigo, e nos trata por tu, e nos acolhe com sua graça alfacinha - é o local de privilégio de Lisboa, o lugar bruxo que nos sabe sempre bem atavessar, mesmo sem pretexto aparente, sem necessidade. Pincelada à noite, em suas mansardas, pelo vermelho, o azul, o verde liminoso dos tubos neon, dir-se-ia que a Praça do Rossio, escovada e moderna, ganha outro caracter." in Olisipo : boletim do grupo «Amigos de Lisboa», Ano II, n.º 5, Janeiro de 1939
Rossio, foto de Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
Rossio, anos 20, foto de Manuel Tavares, in a.f. C.M.L.
Arco do Bandeira, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Rossio, foto de Paulo Guedes, in a.f. C.M.L.
Rossio, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Rossio, foto de Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
"Lisboa, 31 de Agosto de 1901. Dia grande. Às 4 horas e 40 minutos da madrugada proceder-se-ia oficialmente à inauguração do novo sistema de tracção, à volta do qual tantas discussões se tinham levantado; e à tarde, por volta das 2 horas, seria lançada a ponte metálica do elvador de Santa Justa. Era muito!... Lisboa, tranquila e pacata não estava habituada a tantas emoções no mesmo dia. Oradores judiciosos e jornalistas tidos como ponderados e sabedores, tinham afirmado que o sistema de tracção eléctrico faria descer sobre a cidade todas as maldições do Céu. As trovoadas seriam <<inevitávelmente>> atraídas pelos cabos aéreos; os pardais morreriam electrocutados mal se aproximassem dos fios; e os próprios transeuntes, de futuro, teriam que ter o maior cuidado, não se aproximando dos carris por onde a electricidade se escoava. O terror apoderara-se dos espíritos menos esclarecidos; e só por irresistível curiosidade algumas pessoas, na manhã desse dia, tomaram o rumo ao Cais do Sodré de onde os eléctricos partiam, com pequenos intervalos, rua 24 de Julho fora, até Algés (Ribamar). A pouco e pouco, porém, foi-se sabendo que os prometidos cataclismos ainda não tinham dado sinal de vida (ou de morte); e pela tarde já os lisboetas, sem receios nem pavores, tomavam de assalto os carros da <<Companhia Carris>> que o <<Imperial>> do dia seguinte classificava de <<verdadeiramente decentes e elegantes>>. Depois, a partir desta data, os novos veículos foram implantando o seu reinado, conquistando definitivamente as preferências do Público." in Revista municipal, N.º 50
Eléctrico na Praça do Comércio, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Eléctrico no cais do Sodré, 1901, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.
Obras da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, colocação de carris para o eléctrico, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Obras da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, colocação de carris para o eléctrico e instalação eléctrica, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Almanjarra no Largo João da Câmara, foto do Estúdio de Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
Elécticos no Largo do Corpo Santo, foto do Estúdio de Horácio de Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.
Eléctrico sob o viaduto de Xabregas 1938, foto de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.
Eléctrico na calçada da Ajuda, foto de Judah Benoliel, in a.f. C.M.L.
Eléctricos no Rossio, foto de Domingos Alvão in a.f. C.M.L.
Eléctricos no Rossio, foto do espólio de Eduardo Portugal, in a.f. C.M.L.