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Paixão por Lisboa

Espaço dedicado a memórias desta cidade

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Igreja do Carmo

"Da antiga egreja do Carmo em Lisboa não restam senão ruinas. Aquelle bello exemplar d'architectura gothica caiu quasi todo por terra, e o tempo não faz mais do que juntar, sobre o que resta, profanação a profanação.
Foi no tempo de D. Sancho II que a ordem dos carmelitas calçados, uma das mendicantes, entrou em Portugal. Na villa de Moura teve o primeiro convento, fundado por uns cavalleiros maltezes, que ao reino tinham aportado em companhia de alguns carmelitas.
Quando nos campos de Aljubarrota se ia sentenciar a causa da independencia portugueza, mais uma vez ameaçada pelo poder de Castella, o mestre d'Aviz e o condestavel D. Nuno Alvares Pereira, invocaram o favor supremo contra a eventualidade da derrota.
O ttiumpho coroou dois votos, e dois votos traduziram-se em dois preciosos monumentos de architectura christã. D. João I lançou fundamentos ao mosteiro da Batalha, essa Illiada de pedra, historia eloquente d'uma epocha gloriosa: o condestavel levantou em Lisboa a egreja do Carmo, cujas ruinas ainda ahi estão para attestar a grandeza do pensamento e a elevação da arte.
Pelos annos 1389 foi, ao que parece, começada a obra, que só se concluiu em 1422. entretanto, antes de concluida, vieram para o mosteiro em 1397 os religiosos da villa de Moura.
O preço modico dos salarios d'então explica como um particular, ainda que poderoso, teve meios de levar a cabo tamanha obra. No livro dos brasões e armas das familias do reino se diz que os officiaes, que trabalharam n'este edificio, ganhavam treze réis por dia, ou o valor de dois alqueires e meio de trigo, que nesse tempo se vendia a cinco réis o alqueire.
Áquelle templo, a que se ligavam tantas recordações nacionaes, deu o fundador a invocação da Senhora do Vencimento. Depois elle mesmo, o maior capitão da sua epocha, o salvador da monarchia, desprezando a gloria de tantos combates, foi alli depor a espada e curvar a fronte á obediencia monastica; e lá mesmo, no habito de religioso, na obscuridade do claustro, falleceu n'uma pousada junto da portaria. O seu tumulo, mandado de França pela sua quarta neta a duqueza de Borgonha, estava na capella mór, do lado do Evangelho. na frente d'elle, armado de armas brancas, havia o vulto de D. Nuno; mas, sobre a campa, já a mesma imagem avultada vestida com um habito de leigo carmelita. Sua mãe Iria Gonçalves jazia sepultada ao pé d'elle, n'um como nicho, aberto na parede.
Segundo se vê da inscripção gothica, e sua traducção, que ainda se conservam no umbral esquerdo exterior da porta principal, a egreja foi sagrada em 1523. A inscripção diz o seguinte:

NA ERA DE 1523 A 30 DIAS DO MES DE
AGOSTO, FOI SAGRADO ESTE MOSTEIRO POR
DÕ AMBROSIO, BPO. DE RVSIONA Q. CONCE
DEO A TODOLOS VISITATES ESTA CASA 40
DIAS DE REMISÃ DOS PECCADOS E PELA
ORDe SÃ CÕCEDIDOS 400 AÑOS E 85
-CORESMAS DE PERDÃ E CADA DIA DO OV
TAVR.º 85 AÑOS E 85 CORESMAS DE PER
DÃ, A QVAL CÕSAGRAÇA SE FES PELA ALMA
BRÃCA ROIZ TALHEIRA Q. DEIXOV SVA
FAZeDA AO MOSTEIRO DE NOSSA SRA.

Na hombreira da direita, em correspondencia com esta inscripção, tem outra, tambem nos dois caracteres, que teve por cima uma cruz, concedendo indulgencias, n'estes termos:

TODO FIEL CHRISTÃO Q. BEI
JAR ESTA CRVS GANHA QVA
RENTA DIAS DE PERDAM
CLEMeTE 7.º E PIO 5.º CONCEDERÃO
AOS FIEIS XPÃOS QVE VISITAREM
AS IGREIAS DE N. SRA. DO CARMO AS
INDVLGENCIAS DAS ESTAÇÕES DE
ROMA DE DENTRO E FORA DOS MVROS
TENDO A BVLA DA S. CRVSADA.

O terremoto de 1755 arruinou o convento, e lançou por terra a egreja, de que não ficaram de pé senão as paredes exteriores.
O templo, muito banhado de luz, era de tres naves, onde havia quatro capellas de cada lado. A capella mór, allumiada por grandes janellas na ordem inferior, não tinha menos de onze na ordem superior. A cada um dos lados d'esta capella havia duas lateraes, maiores, e menores. Por cima dos altares lateraes, nas naves, mettida nas paredes até ao cruzeiro, havia uma galeria, com entrada pelo interior do convento e pelo coro, deitando para a egreja uma tribuna sobre cada um dos ditos altares."
in Archivo pittoresco : semanario illustrado, 1.º Ano, n.º 49, Jun. 1858

Convento do Carmo, foto de Alexandre Cunha.jpg Igreja do Carmo, foto de Alexandre Cunha, in a.f. C.M.L.

Atlas da carta topográfica de Lisboa, Nº 43, 185

Atlas da carta topográfica de Lisboa, Nº 43, 1858, de Filipe Folque, in A.M.L.

Traslado em pública forma elaborado por Martim Vi

Traslado em pública forma elaborado por Martim Vicente de uma carta de D. João I que autoriza Nuno Álvares Pereira a doar bens imóveis ao mosteiro do Carmo, in A.M.L.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo antes do terramot

Igreja de Nossa Senhora do Carmo antes do terramoto de 1755, foto de José Arthur Leitão Bárcia

Frontaria do convento do Carmo e exterior da capel

Frontaria do convento do Carmo e exterior da capela-mor do lado do Rossio, antes do terramoto de 1755, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

Convento do Carmo, foto de Francesco Rochinni.jpg

Convento do Carmo,anterior a 1895, foto de Francesco Rochinni, in a.f. C.M.L.

Convento do Carmo, fachada principal, foto de Ferr

Igreja do Carmo, fachada principal, foto de Ferreira da Cunha, in a.f. C.M.L.

Convento do Carmo, bárcia.jpg

Igreja e convento do Carmo, foto de José Arthur Leitão Bárcia, in a.f. C.M.L.

Missa nas ruínas do convento do Carmo assinalando

Missa nas ruínas do Igreja do Carmo, assinalando o 535.º aniversário da batalha de Aljubarrota, 1928, fotógrafo n/i, in a.f. C.M.L.

 

Convento do Carmo, interior, 1949, foto Estúdios

Igreja do Carmo, interior, 1949, foto Estúdios Mário Novais, in a.f. C.M.L.

 

 

 

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