Vilas operárias de Lisboa
"No Roteiro de Lisboa do Anuário Geral de Portugal, edição de 1979, estão contabilizadas 350 vilas, o que dá ideia da importância destes aglomerados no conjunto da cidade.
As camadas mais desfavorecidas da população lisboeta viam-se, na contingência de terem de sofrer condições de alojamento deprimentes, albergadas em palácios arruinados ou conventos desafectados e a maioria das vezes em pátios insalubres. Foi aí que a iniciativa privada começou a interessar-se pela situação, com a construção de vilas operárias, onde as condições não seriam tão miseráveis e que dariam, provavelmente, bons lucros aos investidores.
Das vilas formando ruas, as mais significativas são a Vila Dias, junto a Xabregas, construída em 1888 ao longo da linha de caminho de ferro, e a Vila Berta, à Graça. Construída por Diamantino Tojal em 1902, trata-se de um conjunto interclassista, com edifícios para diferentes estratos sociais e de grande apuro formal, em que também é notável o recurso a estruturas metálicas e a rica decoração em azulejos.
Noutros casos, como parece ser o do Bairro Grandella, a construção de habitações para o pessoal poderia inscrever-se numa atitude de tipo paternalista por parte dos empresários, promovendo imagens como a «grande família» e a «dignificação do trabalho» e não deixando certamente de funcionar como instrumento de controle e de pressão sobre os assalariados. É notório neste último caso o extremo cuidado do arranjo, a qualidade do desenho e também a diversificação das tipologias, reproduzindo naturalmente a hierarquia no trabalho no local de habitação."
in "Pátios e vilas de Lisboa, 1870-1930: a promoção privada do alojamento operário" de Nuno Teotónio Pereira
Bairro Grandella, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Vila Dias, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Vila Berta, foto de Artur Goulart, in a.f. C.M.L.
Vila Dias, foto de Alberto Carlos Lima, in a.f. C.M.L.
Bairro Grandela, foto Alexandre Cunha, in a.f. C.M.L.